Por Luciana Ramos

 

Histórias sobre imigração não são incomuns em Hollywood pelo apelo emocional que proporcionam. Mesmo aqueles que moram no lugar onde nasceram conseguem relacionar-se com personagens que prospectam um futuro melhor para si. Diante desse fato, “Brooklyn” nasce como uma trama que, embora seja desprovida de grande impacto, consegue emocionar pela busca de sua protagonista por um final feliz.

Eilis (Saoirse Ronan) é uma jovem de uma pequena comunidade irlandesa que passa os seus dias confinada atrás do balcão servindo pães e outros artigos caseiros. Inteligente e estudiosa, não vê nos horizontes irlandeses a perspectiva de um futuro bem-sucedido e, por intermédio de um padre (Jim Broadbent), muda-se para o bairro do Brooklyn, nos Estados Unidos.

 

Dividindo-se entre os estudos de contabilidade e o trabalho em uma luxuosa loja de departamentos, é assolada por uma melancolia profunda, um misto de saudades da mãe e irmã e nítida sensação de deslocamento: os rostos que vê não lhe são familiares, o modo de falar e portar dessas pessoas é bastante distinto, as ruas estão sempre cheias e caóticas.

brooklyn 1

Tudo muda de figura quanto conhece Tony (Emory Cohen), um italiano que imigrou com a família e tenta subir na vida com um trabalho simples, porém honesto. A sua tagarelice e amabilidade encantam Eilis, que passa a crer que terá dias melhores ao seu lado.

Porém, um evento trágico a bota de frente com o passado mais uma vez, desta vez com uma roupagem sedutora. Cabe a ela então ponderar sobre qual é o melhor caminho a seguir.

 

Com trama dinâmica, fruto do trabalho de adaptação do escritor e roteirista Nick Hornby (que roteirizou “Educação”) do livro de Colm Tóibín, “Brooklyn” oferece um panorama da vida de alguém que teve a coragem de largar tudo para seguir um novo rumo. Apesar da boa dose de romance, a abordagem do conflito é bastante realista por explorar com sutileza o fato de que, na vida, cada escolha possui sua dose de alegrias e tristezas.

Para isso, pauta-se imensamente na atuação da também irlandesa Saoirse Ronan. Com bastante expressividade facial e oscilações na forma de se portar, consegue traduzir tanto as inquietações da sua personagem quanto o seu gradual desabrochar. Extremamente competente, é o maior trunfo do filme e, por isso conquistou a sua segunda indicação ao Oscar (ela concorreu anteriormente por sua interpretação em “Desejo e Reparação”).

Igualmente competente é o trabalho de Emory Cohen, que consegue imprimir credibilidade na composição de Tony, unindo fragilidade e gentileza ao tom esperançoso e sonhador do personagem. Tudo com muito carisma.

 

Esteticamente, o longa é eficiente e interessante sem se sobrepor à trama, com exceção do figurino. Este se destaca pelo uso inteligente da paleta de cores. Por meio destas, exprime o processo de socialização da protagonista na nova comunidade.

Assim, Eilis inicia o filme usando exclusivamente trajes verdes, cor associada à Irlanda. Assim que pisa nos Estados Unidos, passa a mesclar acessórios vermelhos ao visual, também uma cor representativa, já que ajuda a compor a bandeira do seu novo país. Aos poucos, conforme vai assimilando a cultura e ganhando confiança, liberta-se das limitações de vestuário para experimentar tons de azul, rosa, amarelo em um claro sinal do seu crescimento espiritual.

Embora o título se refira a uma pequena porção de Nova York, o que faz Brooklyn ser um filme comovente é a sua universalidade. Diante da história de uma imigrante irlandesa explorando um território desconhecido em busca da completude experimentamos a sua tristeza, deslocamento, questionamentos, gratidão e felicidade. Um filme muito bom que se relaciona com todos aqueles que tiveram grandes sonhos ou ansiaram por algo a mais da vida.

 

Ficha técnica brooklyn poster


Ano:
 2015

Duração: 111 min

Nacionalidade: Irlanda, Grã-Bretanha, Canadá

Gênero: drama, romance

Elenco: Saoirse Ronan, Emory Cohen, Domhnall Gleeson, Jim Broadbent

Diretor: John Crowley

 

Trailer:

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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