Por Luciana Ramos
Em 1999, “A Bruxa de Blair” tornou-se um fenômeno em grande parte pela inteligente estratégia de marketing, que vendeu o filme como um documentário montado a partir de fitas encontradas misteriosamente. Nelas, um grupo de jovens explora uma floresta americana à procura da confirmação da existência de uma poderosa bruxa, capaz de matar pessoas apenas estabelecendo contato visual.
Tendo custado apenas 50 mil dólares, o mockumentary (falso documentário) revelou-se extremamente lucrativo, tendo arrecadado cerca de U$ 450 milhões em bilheteria ao redor do mundo. O filme serviu ainda para popularizar um subgênero, denominado found footage, que utiliza as reações dos atores como motor do medo em planos subjetivos e trêmulos.
Sequências medíocres e outras produções – como “Atividade Paranormal” – esgotaram as possibilidades da estética, devidamente incorporada ao sistema de produções em massa de Hollywood. “Bruxa de Blair”, cuja ausência do artigo denota uma obra independente da primeira, é um produto dessa lógica. Vendida como uma continuação (ainda que possua ares de remake), representa a pretensão do estúdio em atrair fãs nostálgicos para oferecer um entretenimento facilmente digerível sem apresentar nenhuma inovação – sequer na narrativa.
O elo com o primeiro longa dá-se pelo personagem James (James Allen McCune). Sua irmã Heather foi dada como morta após adentrar e floresta e sumir há mais de quinze anos, mas uma filmagem amadora vista no Youtube o leva a acreditar que ela ainda sobrevive de alguma forma no local. Com isso, decide reunir os amigos e explorar a mata densa em busca dela – ou ao menos de uma explicação.
A trama descreve a jornada dos personagens desde a preparação da empreitada até o confronto de cada um com as forças sobrenaturais do lugar. Há um amplo investimento na construção da tensão, que ocupa mais de uma hora de tela. Esse mecanismo narrativo, porém, tem um resultado negativo: o elo emocional entre os personagens e o público não é satisfatoriamente construído e o desinteresse é a sensação predominante. Quando o confronto de fato começa já é tarde demais para reverter tal efeito, o que torna o filme ineficaz em sua essência, a de provocar medo.
A problemática deriva-se também de uma falta de entendimento pleno das qualidades da franquia. O que “A Bruxa de Blair” soube usar foi a potencialidade inserida na proposta de criar o temor na mente do espectador. Não mostrar o monstro, entidade ou agressor, é explorado ao nível máximo, pois fornece espaço para o público preencher o espaço em branco na sua mente, o que se torna uma experiência muito mais intensa.
A sua mais nova continuação, em contraponto, limita-se ao susto fácil, comumente chamado em inglês de jump scare. São as aparições por trás ou viradas repentinas que podem até tirar o espectador da cadeira por um segundo, mas definitivamente não o empolgará. Sem nada mais a oferecer, a trama torna-se chata e genérica, fazendo menos sentido artístico do que mercadológico.
O único patamar onde é possível sentir algo novo é na adoção de materiais de filmagem bem mais tecnológicos que os de 1999: câmeras auriculares, GPS portátil e até um drone são usados. Como resultado, há uma maior variedade de enquadramentos, libertando o filme da constância dos planos subjetivos, mas sem adicionar uma expressiva qualidade visual, dada a monotonia da floresta onde grande parte da ação é passada.
Diante de tantos problemas, “Bruxa de Blair” soa como uma derivação inferior calcada nos interesses mercadológicos de uma indústria que se vale de antigos sucessos para atrair espectadores aos cinemas. Uma vez originais, os elementos narrativos foram devidamente incorporados e esgotados, assim como as ideias de Hollywood. O resultado é um filme morno e que será devidamente esquecido em alguns meses.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 89 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: terror
Elenco: James Allen McCune, Callie Hernandez, Corbin Reid, Brandon Scott, Wes Robinson, Valorie Curry
Diretor: Adam Wingard
Trailer:
Imagens: