Por Luciana Ramos
O movimento conhecido como “Nova Hollywood” marcou um período de grandes experimentações estéticas. Denso e crítico ao american way of life excessivamente vendido pelo cinema das décadas anteriores, simbolizou o caráter questionador dos anos setenta. Dentre os nomes ilustres que ganharam destaque e reconhecimento pela capacidade criativa está o de Paul Schrader, autor de roteiros como “Touro Indomável”, “Taxi Driver” e “Gigolô Americano”, o qual também dirigiu.
A mudança do sistema na década seguinte, com a consolidação de um modelo mais pasteurizado de cinema, levou Schrader ao esquecimento. Porém, mais recentemente, encontrou no cinema independente a possibilidade de explorar sua veia artística em produções menores, com resultados mistos. “Cães Selvagens”, baseado no livro do ex-presidiário Edward Bunker, é a sua última empreitada, infelizmente sem sucesso.
O filme conta a história de três homens, Troy (Nicolas Cage), Diesel (Christopher Matthew Cook) e Mad Dog (Willem Dafoe), unidos pelo tempo encarcerados. Uma vez livres, percebem que não se encaixam ao modelo social preconizado. Resolvem, portanto, voltar ao mundo do crime, o qual dominam. Após alguns incidentes, cometidos pelo hábito de resolver as situações apresentadas com violência, arranjam um trabalho sujo que potencialmente os tornará ricos. Porém, a impulsividade comum a eles, em especial ao personagem de Dafoe, arrisca o sucesso do plano.
Inconsistente do começo ao fim, o que poderia ser um filme mediano de conteúdo já massificado torna-se um total desperdício de tempo nas mãos do seu diretor, que parece perdido em suas intenções, bem longe da criatividade aguçada demonstrada nos clássicos que ajudou a moldar.
O roteiro fraquíssimo, confuso e com diálogos sem nexo não é capaz de inspirar simpatia alguma pelos personagens, dada a constância da violência explícita. Absolutamente comprometida com a gratuidade, impede maior desenvolvimento dos três foras da lei, que permanecem no nível mais plano. Ocasionalmente, piadas surgem como apelos de alívios cômicos, mas a superficialidade do tratamento não atenua o sentimento de incômodo já experimentado.
A estética, por sua vez, apenas exacerba os problemas de tom do longa: planos em preto e branco são contrapostos à explosões de cores na tela, do rosa predominante da cena inicial, ao azul alucinógeno das drogas e o vermelho da névoa que envolve o personagem de Nicolas Cage em determinada cena. A falta de um alinhamento visual coerente com o roteiro revela uma indefinição do tratamento ao tema. O exagero da construção visual, na verdade, parece ser uma tentativa mal sucedida de fazer uma alusão a filmes aclamados como “Assassinos por Natureza” ou os pastiches de Quentin Tarantino, sem os aspecto cool que os torna palatáveis.
Diante de tantos problemas de concepção, “Cães Selvagens” não consegue assumir uma identidade ou um mero propósito de existir: parece mais entusiasmado nas suas sucessivas cenas de tiroteio. O seu caráter superficial torna-o um produto pronto para ser esquecido após os intermináveis noventa minutos de pouco desenvolvimento.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 93 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: crime, suspense
Elenco: Nicolas Cage, Willem Dafoe, Christopher Matthew Cook
Diretor: Paul Schrader
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