Por Luciana Ramos
Em 2002, “Casamento Grego” revelou a atriz Nia Vardalos, que escreveu e atuou na comédia. Esta unia romantismo idealizado a comentários sagazes e muito engraçados sobre as discrepâncias entre os costumes gregos e americanos. Tendo angariado 650 milhões de dólares em bilheteria ao redor do mundo, configurou-se como um dos filmes mais rentáveis do seu gênero.
Porém, o tempo não parece ter sido bondoso com Vardalos, que amargou fracassos consecutivos nos projetos posteriores. Assim, a decisão de revisitar seu maior sucesso depois de tanto tempo (exatos 14 anos) automaticamente implica uma certa desconfiança, reafirmada pela tendência hollywoodiana de lucrar em cima da nostalgia com sequências e remakes de qualidade bem inferior aos produtos originais.
Infelizmente, tal suspeita é confirmada nos primeiros minutos de “Casamento Grego 2”, que mostra não ter nada de diferente a oferecer: a atriz e roteirista opta por trabalhar a mesma premissa cômica, o “peixe fora d’água”, que propõe o riso pelo contraponto absurdo entre duas realidades ou comportamentos.
Assim como Toula (Nia Vardalos) no primeiro filme, a sua filha Paris (Elena Kampouris) sofre no novo longa com o convívio sufocante com a família grega. Além de ter que ouvir repetidas vezes o mesmo discurso de “boas meninas gregas casam cedo com rapazes da mesma nacionalidade”, há o embaraço social causado pela insistência dos familiares de andarem em bando, acompanhando cada passo da sua vida.
Toula, que sentia a mesma falta de liberdade até conhecer Ian (John Crobett), virou uma mãe superprotetora que se pune tanto por fomentar esse tipo de conduta familiar quanto pela falta de tempo para o seu relacionamento com o marido.
Caso o roteiro de “Casamento Grego 2” oferecesse novos insights sobre o gap cultural ou tivesse modernizado o seu discurso de gênero, desprendendo-se da profunda misoginia e alinhando-o às demandas sociais de hoje, o filme poderia ter conseguido oferecer o entretenimento inteligente e despretensioso que seu título remete. No entanto, optou-se pelo caminho mais fácil, o da excessiva familiaridade – e, portanto, previsibilidade – do tema, recheado com as mesmas piadas (literalmente) do primeiro filme.
Como se não bastasse, o casamento a que se refere o título, dessa vez envolvendo um erro nos documentos dos pais de Toula, soa como uma desculpa pouco inspirada para trazer de volta ao cinema os personagens que há mais de uma década cativaram a adoração de espectadores ao redor do mundo.
Bem menos engraçado e audacioso na exposição dos costumes gregos do que o seu predecessor, “Casamento Grego 2” consegue entreter seus fãs mais nostálgicos em alguns momentos, especialmente naqueles que exploram a empatia pela família Portokalos que, embora louca, é unida e amorosa. No entanto, a obviedade de cada uma das cenas o faz incapaz de resgatar o brilho do seu produto original: aquela mistura de compaixão pela jornada da gata borralheira e do riso inteligente provocado pelas considerações mordazes, envolvidos numa aura romântica que se mostra capaz de transcender barreiras.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 94 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: comédia, romance
Elenco: Nia Vardalos, John Corbett, Michael Constantine
Diretor: Kirk Jones
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