Por Luciana Ramos
“Colossal” inicia com Glória (Anne Hathaway) sendo expulsa do apartamento do namorado, Tim (Dan Stevens). Alcóolatra inveterada e desempregada, busca na sua cidade natal uma chance de recuperar o controle. A oportunidade de um novo emprego vem pelas mãos do amigo de infância Oscar (Jason Sudeikis), que é dono de um bar. Porém, a proximidade das bebidas a faz recair constantemente no vício.
Em um primeiro momento, o filme aproxima-se dos dramas independentes. Há uma clara preocupação do diretor em despir-se de elaborações estéticas: mostra-se a realidade de maneira crua. No plano narrativo, trabalha-se o cotidiano como forma de aprofundamento do relacionamento entre os personagens. Dessa forma, “Colossal” parece caminhar nos seus primeiros vinte minutos para uma jornada de autoconhecimento que, por sua vez, desencadeia a superação de um problema – no caso, o alcoolismo. É quando a trama é invadida por um monstro que provoca destruição e medo em Seul, na Coréia do Sul.
A primeira reação de Glória à noticia é o horror diante da situação. Logo, porém, ela fica intrigada com os trejeitos deste monstro, muito parecidos com os seus, e percebe ter uma relação íntima com ele. Com a inclusão de um elemento fantástico, a trama afasta-se da mesmice característica à previsibilidade para agregar o potencial inerente ao absurdo. Este não é fruto de uma simples deliberação, mas contém uma clara metáfora acerca do potencial destrutivo peculiar a cada ser humano. No caso do filme, este refere-se ao alcoolismo, mas pode expandir-se para outras linhas de reflexão.
Ao perceber sua conexão com o monstro, Glória é forçada a pôr suas atitudes em perspectiva e fazer uma escolha. Entretanto, ela encontra em Oscar um obstáculo, já que ele vê o caráter extraordinário da situação como a emoção que faltava na sua existência limitada e pacata.
Discorrendo acerca desse conflito interpessoal, com consequências de grande proporção sentidas em outra parte do mundo, “Colossal” desenvolve-se com sagacidade e inteligência. Um elemento muito bem trabalhado é o humor, pautado na ironia e no caráter ridículo das lutas em um parquinho infantil. No entanto, uma vez que todos os elementos são finalmente apresentados e os conflitos são estabelecidos, o longa adota uma forma mais convencional, caminhando para a repetição até o seu clímax. Este, embora factível e bem construído, não suprime o desejo de experimentar mais uma vez a surpresa.
Por outro lado, uma abordagem mais alinhada à tradição estética se mostra acertada em relação ao tratamento do monstro. A exemplo de outros filmes, como o famoso “Tubarão”, Nacho Vigalondo opta por não revelar o sua criatura por completo. Com isso, usa a baliza de aparelhos eletrônicos, como a televisão, para revelar ao espectador o necessário para comprar sua credibilidade e, ao mesmo tempo, driblar limitações de orçamento.
“Colossal”, embora extremamente divertido e intrigante, não deixa de abordar com certa superficialidade o caráter absurdo que propõe, deixando inexploradas diversas possibilidades. Ademais, apenas pincela a metáfora que apresenta, esquecendo-se de apresentar maior humanidade aos seus personagens. Ainda assim, pode ser apreciado como uma produção que, em meio a massificação hollywoodiana, se propõe a realizar algo diferente.
Pôster:
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 109 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: comédia, drama
Elenco: Anne Hathaway, Jason Sudeikis, Dan Stevens
Diretor: Nacho Vigalondo
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Imagens: