Após o anúncio dos candidatos ao prêmio do Oscar, considerado o maior do cinema, certa incredulidade toma conta dos cinéfilos por conta de opções, digamos, inusitadas de algumas categorias. Foi o caso, por exemplo, da indicação de George Clooney como melhor ator coadjuvante por “Syriana”, filme em que sem dúvidas interpreta o papel principal. O mesmo aconteceu quando Rooney Mara concorreu neste ano como atriz coadjuvante por “Carol”, visto que ela tem mais tempo em cena que Cate Blanchett, que concorreu na categoria principal, e o longa conta primordialmente o seu ponto de vista. O mesmo ocorreu quando, no início da semana, Viola Davis teve sua candidatura anunciada na mesma categoria por “Fences”, ainda inédito no Brasil.
Percebe que a polêmica sempre gira em torno das atuações, divididas em quatro grandes prêmios? Isso, obviamente, não é acidental. Trata-se de um esquema bolado pelos estúdios e produtoras para garantirem o maior número de estatuetas possíveis para si, visto que o prestígio da premiação abre portas para investimentos futuros. Nesse intuito, vale lembrar que o sistema de financiamento audiovisual americano é privado.
Assim, criou-se ao longo da história do Oscar o que se chama de category fraud, ou fraude de categoria em português. Trata-se da opção por empurrar um ator ou atriz que tem chances de ganhar para a categoria menos concorrida. Basicamente, a escolha vem de dois fatores, sendo o primeiro quando o filme polariza a história em dois ou mais personagens, como em “Chicago” ou “As Horas”. Nesse caso, pôr todos na mesma categoria (o que seria correto) dividiria os votos e poderia acarretar em uma derrota vergonhosa. O caso mais famoso é o Oscar de 1950, quando Bette Davis, uma das favoritas, supostamente perdeu a estatueta por ter competido com Anne Baxter pelos votos de “A Malvada”. Isso explicaria a opção de por Mara como coadjuvante, assim como Catherine Zeta-Jones e Nicole Kidman pelos filmes citados acima.
O segundo, um pouco mais controverso, ocorre quando há muita especulação em torno da categoria, o que revela o quanto a disputa será acirrada. Nesse caso, opta-se pelo caminho mais fácil. Foi o caso das inclusões de Jennifer Connelly e Reese Whiterspoon como atrizes coadjuvantes por “Uma Mente Brilhante” e “Johnny e June”, o que a fizeram ganhar o Oscar. Essa é a explicação mais adequada para explicar a opção de incluir Viola Davis como coadjuvante.
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O Oscar buzz começa com a apresentação de filmes extremamente antecipados em festivais de prestígio. A recepção dos filmes faz os estúdios entenderem quais longas tem chances reais de premiação e, assim, definem a data de estreia – fator importantíssimo para os votantes. Em cima das críticas, avaliam quais são seus melhores atributos e começam a fazer uma árdua campanha de meses para que o filme seja lembrado e votado.
Nesse ano, atuações femininas despontaram na corrida. As candidatas principais até o momento são Emma Stone por “La La Land: Cantando Estacoes”, Natalie Portman por “Jackie”, Isabelle Huppert por “Elle”, Amy Adams por “A Chegada”, Annette Bening por “20th Century Woman” e Merryl Streep por “Florence Foster Jenkins: Quem é Essa Mulher?”.
O filme “Fences”, de Viola Davis, dirigido e atuado por Denzel Washington, é visto como um dos principais candidatos, visto que baseia-se em uma peça na qual ela foi premiada com um Tony. Assim, seria um nome a mais na disputa. A categoria coadjuvante, por sua vez, só tem três nomes em voga até o momento: Naomie Harris por “Moonlight”, Michelle Williams por “Manchester By the Sea” e Greta Gerwig por “20th Century Woman”. Considerando que as estreias do final do ano costumam lançar novos filmes na disputa, essa parece ser a melhor chance de Viola, considerada uma atuação forte.
Assim, a Paramount Pictures optou por lança-la à candidatura por atriz coadjuvante, sendo que a trama gira em torno do seu personagem e do de Denzel, que interpreta seu marido. Isso explica que nada no Oscar é por acaso e por trás das indicações há muito trabalho e estratégia. Resta saber se esta escolha dará frutos à Paramount ou não.