Por Luciana Ramos
Louisa Clark (Emilia Clarke) é uma jovem alegre e desajeitada que não parece ter muita sorte no campo profissional. Completamente sem perspectiva de carreira e sob a pressão de ajudar financeiramente a família, é ajudada por um agente a conseguir um trabalho como cuidadora de um jovem tetraplégico. Will Traynor (Sam Claflin) é rico, bonito e inteligente, mas parece ter perdido toda a vontade de viver. Amargurado, não faz questão de ser simpático, procurando constranger seus visitantes – incluindo Louisa no primeiro momento – com imitações estereotipadas de deficientes.
A diferença extrema de personalidade, reforçada pelos olhares sarcásticos de Will às escolhas de vestuário de sua cuidadora, são bem trabalhadas e confluem para o desenvolvimento de um relacionamento com aspirações românticas entre os dois. Apelando para a previsibilidade e apostando na humanidade dos seus personagens para formação do elo emocional com o espectador, Jojo Moyes, autora do livro originário da obra e também do roteiro do filme, trabalha com as expectativas da completude do amor romântico, para então frustrá-las adicionando mais uma camada ao tema – e é nesse ponto que a trama se mostra frágil e plana.
O romantismo implícito à historia desde o seu começo é trabalhado como uma “receita de bolo”, com a inserção de cenas e elementos facilmente reconhecíveis que mostram o fortalecimento do sentimento dos personagens principais. Um grande acerto é a opção de inserir humor sarcástico como ferramenta, que proporciona a leveza necessária ao gênero.
Além disso, conta primordialmente com o carisma de Emilia Clarke, que se distancia do seu personagem da série televisiva “Game of Thrones” utilizando a expressividade das suas sobrancelhas. Suas caras e bocas casam bem com a descrição do papel e tornam a sua Louisa ainda mais humana e relacionável. O mesmo não pode ser dito pelo seu colega de elenco, Sam Claiflin, que confunde limitação de movimentos com apatia e, assim, falha em fornecer mais densidade ao seu personagem.
A sua atuação, no entanto, não é de longe o maior problema de “Como Eu Era Antes de Você”. Como dito anteriormente, o roteiro em determinado momento busca a quebra da expectativa romântica como instrumento de diálogo para um tema maior, a eutanásia, e falha terrivelmente.
O problema revela-se estrutural, consequência de uma abordagem mal utilizada, contrastante com outras produções similaridade temática, como “Intocáveis” e “Mar Adentro”. O longa de The Sharrock banaliza a questão em discursos que a todo momento conectam intrinsicamente as limitações físicas de Will à sua incapacidade de ser feliz, ou melhor, de viver.
Assim, não é o seu desejo pela morte com dignidade que revela-se problemático, mas todas as falas que reforçam uma visão estereotipada e errônea da condição dos deficientes. Falas como “Eu não quero ser uma âncora para você” ou “Eu quero viver como o meu “eu” antigo” reforçam a todo momento que a limitação física é, para ele, tão acachapante que todo o espectro de possibilidades parece esgotado.
Doutrinariamente, ainda que escondido em passagens românticas e aparentemente leves, o filme conduz a conclusões simplistas e preconceituosas, extensivas a outros aspectos. Louisa descreve-se como alguém que não experimentou a vida, ao que Will prontamente conecta a sua situação financeira. Em determinado momento, embebido de boas intenções, ele resolve ajudá-la nesse sentido. No fundo, o que a cena revela é a também nociva concepção do dinheiro como ferramenta essencial para a vivência plena.
Assim, os ingredientes infalíveis das comédias românticas, trabalhados sem parcimônia no roteiro de Jojo Meyes, perdem-se em meio a construções narrativas rasas e equivocadas. Nesse sentido, outros romances que contemplam a complexidade do amor, assim como filmes que tratam a questão da eutanásia com mais propriedade, tornam-se mais recomendados que “Como Eu Era Antes de Você”.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 110 min
Nacionalidade: Inglaterra
Gênero: drama, romance
Elenco: Sam Claflin, Emilia Clarke, Janet McTeer
Diretor: Thea Sharrock
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