Por Luciana Ramos
Metafórico e carregado de simbolismos, “Creed: Nascido para lutar” é elogioso à franquia de Rocky Balboa ao expandi-la com uma trama que diverte e emociona.
Fruto de um caso extraconjugal e relegado a lares adotivos no começo da vida, Adonis Creed (Michael B. Jordan) é adotado pela esposa do seu pai (Phylicia Rashad) quando ainda criança. Criado ouvindo falar sobre o mito Apollo Creed, o jovem Donnie, como prefere ser chamado, oscila os seus dias entre um prestigioso cargo numa empresa do mercado financeiro e lutas baratas e ilegais no México até decidir largar o luxo e ir treinar para ser boxeador profissional.
Para isso, vence pela resistência o velho Rocky Balboa (Sylvester Stallone), ídolo do esporte e amigo íntimo do seu falecido pai, a deixar um pouco o seu restaurante (nomeado Adrian’s) de lado para treiná-lo.
Passo a passo, soco a soco, ringue a ringue, como Rocky gosta de proferir a Donnie como incentivo, os dois criam um vínculo fraternal forte que provoca mudanças significativas na forma como ambos enxergam a vida.
Ao contrário do foco de abordagem de “Rocky- Um Lutador”, onde Balboa é retratado como um fracassado que usa a luta para deixar a sua condição de marginalizado, a motivação de Adonis baseia-se na sua formação de caráter e firmação da identidade. Tendo crescido na sombra do pai, o rapaz parece querer ao mesmo tempo conectar-se com ele por meio da profissão e desafiá-lo. Isso é mostrado de forma rica na passagem em que Donnie assiste a uma luta clássica entre Apollo e Rocky. Logo, ele começa a ensaiar em frente à tela os golpes deferidos pelo último, em claro confronto com o pai.
Com algumas dessas metáforas visuais rebuscadas, pequenas homenagens e recriação de famosas cenas dos filmes anteriores, “Creed: Nascido para Lutar” expande a franquia na apresentação de um personagem que carrega o seu próprio peso dramático.
Ao seu lado está Rocky, personagem apresentado em 1976 que conquistou fãs cativos pela exposição de diferentes partes da sua vida ao longo de seis filmes. No papel de coadjuvante, tem suas limitações físicas e emocionais exploradas. Ademais, assume a posição de alívio cômico da trama, uma diferenciação de tratamento do personagem feita de forma sagaz e inteligente.
Cabe ressaltar aqui o desempenho excepcional de Sylvester Stallone, que consegue aliar a densidade emocional a uma amabilidade característica do personagem, especialmente vistas em cenas onde relembra melancolicamente o passado.
Outro destaque é a atuação de Michael B. Jordan, que impulsionou o projeto ao lado do diretor Ryan Coogler, com quem trabalhou em “Fruitvale Station”. A Adonis, soube conferir credibilidade, a impulsividade característica da juventude (em contraponto à serenidade de Rocky), segurança do caminho a seguir e imenso carisma.
A humanização na medida certa dos personagens, o que os torna mais afáveis ao público, estende-se à Bianca (Tessa Thompson), par romântico do protagonista, que liberta-se da superficialidade normalmente conferida a esses personagens para surgir com força, independência e densidade dramática.
A qualidade técnica acompanha a narrativa e é possível perceber os detalhes cuidadosos do design de produção na reconstituição da casa de Rocky, nas fotos do seu restaurante ou no cartaz do “garanhão italiano” na Academia de Paulie. A direção é ágil e dinâmica, em especial na luta final, quando vale-se de antigos clichês como câmera lentas e closes nos pés para transmitir de forma eficiente a tensão ao espectador.
Igualmente notável é a trilha sonora de Ludwig Goransson, que combina as batidas do hip hop com a melodia classicamente remetida à saga de Rocky Balboa.
Por todos esses méritos, pode-se afirmar que “Creed: Nascido para Lutar” arriscou na medida certa e conseguiu consolidar-se como um bom filme de esporte, igualemtne cômico e dramaticamente carregado. Soube dosar referências ao passado à apresentação e construção de uma nova etapa da vida de Rocky Balboa, agora na condição de mestre. Com personagens extremamente humanos, deve agradar especialmente os fãs do mais famoso boxeador do cinema.
Ano: 2015
Duração: 133 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: drama,esporte
Elenco: Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, tessa Thompson
Diretor: Ryan Coogler
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