Por Luciana Ramos
Ao escolher como objeto documental a obra de um diretor consagrado, qual seria a abordagem mais proveitosa? O uso de depoimentos das pessoas mais próximas? Talvez recortes de seus principais filmes em conexão causal? Para Noah Baumbach e Jake Paltrow, diretores do longa “De Palma”, a força reside nas palavras do diretor e sua consequente capacidade de análise.
Brian de Palma foi um dos expoentes do movimento cinematográfico chamado Nova Hollywood. Contemporâneo de Coppolla, Scorcese e Spielberg, utilizou os recursos à disposição na década de 70 para realizar obras em que a experimentação era bem-vinda e, assim, pode desenvolver um estilo próprio. Clamando para si o título de discípulo verdadeiro de Hitchcock, voltou-se para a construção de thrillers banhados em sangue, guiando o olhar do público por meio de split screens e longos travellings.
Em contraponto ao imenso sucesso de alguns filmes, como “Scarface”, “Carrie- A Estranha” e “Os Intocáveis” vieram retumbantes fracassos, caso de “A Fogueira das Vaidades”, e a consequente polêmica sobre o peso do seu cargo no produto final o acompanha até hoje, no auge dos seus 70 anos.Todos estes aspectos de sua vida profissional são adressados por ele mesmo, em uma longa entrevista onde expõe detalhadamente seu processo criativo, conjecturadas por histórias de bastidores e reflexões sobre a indústria em que atua. Para Baumbach e Paltrow, o ponto de vista de De Palma é o que importa: a realidade é retratada através de seu olhar.
O que torna este filme em si interessante é exatamente a falta de pudor com que o diretor descreve seus feitos, não escondendo dificuldades de produção, descrições sobre orçamento e uma boa dose crítica sobre a qualidade final das obras.
Unindo anedotas de bastidores, referências principais e as dificuldades práticas do trabalho – quase sempre envolvendo dinheiro e suas implicações – De Palma entrega-se a reflexão. Nesta, encontra duras críticas ao sistema cinematográfico hollywoodiano e relata como é ser vangloriado e demonizado pelo mesmo. Transitando entre filmes independentes e blockbusters, ele descreve como é ter o poder decisório tolhido pelos estúdios e, mesmo assim, ter que assumir toda a responsabilidade sobre o produto final.
Assim, as reflexões de um prolífico diretor sobre sua carreira tornam o documentário em si em lago maior do que uma mera homenagem: é a análise de um homem sobre o objeto de seu trabalho e, em última instância, uma exposição do lado podre de um sistema que envolve aspectos mercadológicos e artísticos.
A união dos fatores explicitados torna “De Palma” um presente a todos os cinéfilos. Fluido, divertido, instigante e por vezes ácido, deixa o espectador com vontade de passar mais horas ao lado de Brian de Palma e ouvir o que ele tem a dizer.
Ficha técnica
Ano: 2015
Duração: 110 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: documentário
Diretor: Noah Baumbach, Jake Paltrow
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