Por Murillo Trevisan

Desde 2009, quando o personagem fez uma aparição bizarra no filme solo de Wolverine, seus fãs clamavam por uma versão mais digna de Deadpool. Com um visual de Baraka (do game “Mortal Kombat”), fitas isolantes no peito e boca costurada, o mercenário tagarela não teve voz para brigar por seus direitos. Decepcionado com o fim que levou o personagem, Ryan Reynolds, fã declarado do anti-herói e envolvido na produção do filme solo do mesmo desde 2004, se juntou ao especialista em efeitos visuais Tim Miller (de “Scott Pilgrim contra o mundo”). Em 2012 gravam uma cena teste (clique aqui para assistir) para tentar vender o projeto, do qual seria rejeitado pela 20th Century Fox. Dois anos depois, um membro da equipe de produção (que ainda jura de pés juntos não ter nenhum envolvimento nisso) vazou o vídeo na internet. Vendo a reação positiva dos fãs, a produtora voltou atrás e deu seguimento ao projeto que resulta nesse divertido filme que podemos ver nos cinemas.

 

Deadpool 2009 x Deadpool 2016

Deadpool 2009 x Deadpool 2016

 

Já na abertura percebemos o tom do humor que o longa promete nos entregar. Fazendo um passeio por uma cena em slow-motion, aquela mesma da qual foi “vazada” para impulsionar a produção, os créditos vão sacaneando a equipe com piadas como “um filme para babacas”, “com uma gostosona” e “o cara mais sexy do mundo” (referência a lista divulgada na revista “People” em 2008), preparando o espectador pelo que vem pela frente. Ex-militar e mercenário, Wade Wilson (Reynolds) é diagnosticado com câncer em estado terminal, porém encontra a possibilidade de cura em uma sinistra experiência científica, o projeto arma-x. Porém, algo dá errado e, apesar da cura de sua doença e da aquisição de super poderes, ele fica totalmente deformado e começa sua busca incessante pelos responsáveis.

Nos quadrinhos, o personagem criado por Fabian Nicieza e pelo controverso Rob Liefeld é conhecido por quebrar a quarta parede e falar diretamente com o leitor. Esse recurso, também já utilizado no cinema em filmes como “O Máskara” ou o clássico da sessão da tarde “Curtindo a vida adoidado” se encaixa muito bem no contexto da trama, fazendo com que ele pareça ainda mais louco diante dos outros personagens envolvidos em cena.

Além disso, o que também provoca aproximação e identificação com o público são as referências à cultura pop. Piadas sobre o ator no filme do “Lanterna Verde” são recorrentes, assim como citações sobre as lambanças que a Fox faz em sua cronologia dos filmes dos X-Men ou sua própria aparição no filme solo de Wolverine. Isso também é recorrente nas revistas do personagem. Há uma saga chamada “Merc with a mouth” onde suas capas fazem homenagens à alguns clássicos.


Merc-with-a-mouth


Motivo de piada no próprio filme, por ser conhecido por sua beleza e não pelas atuações, Ryan Reynolds é o grande destaque. Envolvido desde o início, o ator deu o sangue na produção, e posso dizer sem medo de que esse é o melhor trabalho de sua carreira. Seu tom sarcástico e excelência nas expressões corporais características do personagem conseguem apagar da nossa memória aquela aparição já citada acima. A brasileira Morena Baccarin (da série “Gotham”), que interpreta Vanessa (namorada de Wade), também desempenha um bom papel enquanto o foco é o romance entre os dois. Posteriormente, o roteiro coloca sua personagem de um modo um pouco preguiçoso como “a dama em perigo”, o que acaba tirando seu brilho. O vilão Ajax/Francis, interpretado por Ed Skrein (“Carga Explosiva: O Legado”) também é algo que poderia ser melhor trabalhado, já que é a maior motivação da vingança do mercenário.

Por ser um projeto relativamente “independente”, o baixo orçamento (U$ 58 milhões) faz com os recursos visuais sejam bem medianos em comparação a outros filmes do gênero, mas tal limitação não chega a atrapalhar a experiência e nos permite relevar esse ponto a partir do momento em que isso também se torna uma piada dentro do longa.

Além do humor afinado e de seu protagonista que ganha facilmente a simpatia do público, outro ponto positivo é a classificação etária do filme. Nos Estados Unidos recebeu a classificação “Rated R”, que proíbe a entrada de menores de 17 anos (no Brasil caiu para 16 anos). Isso deu mais liberdade à equipe de produção para fazerem o que bem entenderem, sem cortar a essência do que é o personagem nos quadrinhos. “Deadpool” não é um filme inovador, mas chega para dar novo gás às franquias de heróis e provavelmente trará uma grande mudança ao gênero.

Ficha técnica 


Ano:
 2016

Duração: 108 min

Nacionalidade: EUA

Gênero: ação, aventura, comédia

Elenco: Ryan Reynolds, Morena Baccarin, Ed Skrein, T.J.Miller

Diretor: Tim Miller

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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