Por Luciana Ramos

Em “Deixe a Luz do Sol Entrar”, a diretora francesa Claire Denis explora o amor através da ótica de uma mulher de meia-idade, bem-sucedida, que sabe explorar sua sensualidade, mas que parece incapaz de encontrar o par perfeito. A busca, por si só, é alvo do seu questionamento: qual é a razão por trás de tantos fracassos amorosos? Seria a perseguição de algo idealizado, que a impede de desfrutar dos encontros reais? Teria ela que apostar mais em si mesma, ao invés de focar sua atenção em uma figura masculina complementar?

 

Suas incertezas são a todo momento expressadas em diálogos com os amantes, consigo mesmo, com a amiga. Apostando em uma construção narrativa mais formalista, a diretora tenta conceder densidade ao tema através do seu debate verborrágico, escolha que proporciona resultados oscilantes: se em alguns momentos é possível rir com os ataques e pensamentos vagos de Isabelle (Juliette Binoche), é impossível não ceder a fadiga do uso reiterado desse artifício.

 

 

 

Essa sensação é potencializada pela sucessão de relacionamentos da protagonista, muito diferentes em personalidade, mas que, invariavelmente, provocam similares experimentações de desapontamento: postos lado a lado, eles servem como exemplos da complexidade do amor, mas, uma vez compreendida a argumentação, sente-se falta de uma ascensão gradual dramática.

 

Em contraponto, a fotografia de Agnès Godard brinca com as experiências, concedendo singularidade a cada uma: nos enquadramentos que sempre inserem pontos de luminosidade (interpretação subjetiva do título), a câmera expressa as concessões comportamentais feitas pela protagonista, com o claro intuito de se encaixar ao parceiro da vez.

Com o banqueiro (Xavier Beauvois), há o movimento constante, representação do jogo de interesses calculados entre os dois. Quando ela decide sair com um ator (Nicolas Duvauchelle), mais alinhado a sua linha de trabalho, os planos fecham-se e tornam-se estáticos, focando nas reações faciais de ambos. Já no breve e intenso encontro com Sylvain (Paul Blain), que conhece no campo, a câmera acompanha os passos de uma lenta dança, que sintetiza a química sexual que dispensa maiores afinidades.

 

 

 

Na tela, Juliette Binoche brilha e domina o filme, tomando para si a tarefa de expor as contradições que tornam sua personagem complexa e interessante. Nas suas mãos, o longa torna-se atraente, mas não o suficiente para suprimir totalmente as oscilações experimentadas pelo espectador ao longo da projeção, fruto de um trabalho narrativo que se propõe a desafiar as convenções do gênero, mas nunca o faz efetivamente.

Já ao final, uma adorável conversa entre sua Isabelle e um conselheiro amoroso que também tem problemas na área, interpretado por Gérard Depardieu, se desenrola. Porém, o anúncio dos créditos indica que a sua jornada, embora aberta ao que o futuro lhe reserva, não será testemunhada pelo público.

 

 

Pôster

 

 

 

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 94 min

Diretora: Claire Denis

Elenco: Juliette Binoche, Xavier Beauvois, Phillipe Katerine, Bruno Podalydès

 

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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