Por Murillo Trevisan

Se tem uma coisa que a Pixar sabe fazer bem, são “jornadas fantásticas”. É difícil não se emocionar com todo o desvelo que o estúdio tem no desenvolvimento de suas animações. A evolução técnica, desde o primeiro “Toy Story” – lá em 1995 – até os dias atuais foi absurda, porém sempre mantendo o mesmo cuidado ao criar histórias, que cativam tanto o público adulto quanto o infantil.

De fato existem algumas exceções, onde a criatividade é substituída pela necessidade de estourar nas bilheterias, apelando para as continuações desnecessárias (“Carros 3”), mas que ainda assim tem sua importância e relevância, como é o caso de “Os Incríveis 2” ou “Procurando Dory”.

“Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” nos apresenta um mundo comum e realista, que costumava ser dominado por magia, porém, conforme o tempo foi passando, esses seres “mágicos” foram gradativamente se afastando da fantasia para viver no comodismo da tecnologia. Criaturas místicas, como unicórnios, são ordinários e vivem como ratos, se alimentando dos restos de lixo. Fadas não acreditam que podem voar, e cruzam a cidade com suas motocicletas perturbando os comerciantes locais. Essa ambientação, bem parecida com o universo de “Fábulas” – HQ de 2002 do selo DC Vertigo – serve como subtexto para explorar o distanciamento do ser humano de suas origens.

Estabelecido esse universo, a trama acompanha os dois irmãos elfos adolescentes Ian (Tom Holland) e Barley Lightfoot (Chris Pratt) numa jornada para encontrar seu pai. Ou pelo menos metade dele. No aniversário de Ian, ele herda do falecido pai um cajado mágico e um tutorial de um feitiço que pode trazê-lo de volta à vida por 24 horas. O problema é que a runa mágica quebra no meio do encanto, trazendo de volta somente a parte de baixo dele.

No maior estilo “Um Morto Muito Louco” (1989), os irmãos embarcam em um delicioso road movie, no intuito de finalizar o feitiço e poder ver o pai uma última vez. Porém, como já dizia um sábio provérbio (provavelmente chinês), “A felicidade está na jornada e não no destino”. E é nela que ocorre a verdadeira magia de evolução dos personagens, na maneira Pixar de contar história, introduzindo diversas camadas em algo simples e aparentemente superficial. O longa aborda de forma sútil mensagens significativas sobre luto, paternidade e principalmente a aceitação de si e do próximo, independente de credo, cor ou orientação sexual.

Apesar da preguiçosa escolha do título em português, que se preocupa mais em resumir uma sinopse do que representar a essência da história, “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” é um filme progressivo (“Onward”), que mesmo não tão original – abusando de referências – sabe bem onde quer chegar, independente da rota que tomar.

Ficha Técnica

Ano: 2020

Duração: 102 min

Gênero: Animação, Aventura, Comédia

Diretor: Dan Scanlon

Elenco: Tom Holland, Chris Pratt, Julia Louis-Dreyfus, John Ratzenberger, Tracey Ullman

Avaliação do Filme

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