Por Luciana Ramos

 

O estabelecimento do universo cinematográfico da Marvel com filmes como “Vingadores” e “Homem de Ferro” proporcionou à empresa maior liberdade de ação. Esta está sendo utilizada na apresentação de personagens menos populares das HQs, como o Homem-Formiga e os Guardiões da Galáxia. Por meio dos filmes homônimos, estes contribuíram para estender o entendimento sobre outras campos de ação, galáxias e conceitos. Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch) é o mais novo personagem a desempenhar este papel.

A fórmula escolhida para apresentação deste nos cinemas remete aos filmes de origem anteriores, com maior alusão ao primeiro “Homem de Ferro”. Assim, um tempo de tela considerável é gasto explicando em pormenores o funcionamento da magia, o multiverso, inferências sobre o tempo e outras dimensões, condensadas pelo embate físico e espiritual do referido doutor.

Em mesma medida arrogante e brilhante, este tem sua carreira de neurocirurgião interrompida após um acidente. Sua jornada pela cura o leva ao Nepal, onde descobre que as complexidades do mundo em que habita são muito superiores ao que esperava. Com o treinamento da magia mística vem a responsabilidade de agir junto à Anciã (Tilda Swinton), Mordo (Chiwetel Ejiofor) e outros magos no combate à completude dos planos de Kaecilius (Mads Mikkelsen).

 

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O tom palatável do roteiro já citado alivia a carga doutrinária da obra e seu teor dramático, um tom acima dos outros filmes do estúdio. Como reforço, inserem-se piadas sobre personalidades pop e trivialidades, como o wifi, uma utilização do alívio cômico como catalisador da imersão emocional.

Todo esse arcabouço narrativo é preenchido pelo extensivo uso de efeitos visuais, embebidos da difícil tarefa de transpor visualmente os conceitos apresentados. O resultado é impressionante: fendas arquitetônicas desafiam a gravidade, loops de tempo e miríades espelhadas demonstram toda a real capacidade imersiva do bom uso do 3D. O visual transpassa os elementos narrativos como principal atrativo do filme.

A qualidade de “Doutor Estranho” estende-se ao excelente elenco que dispõe. Benedict Cumberbatch demonstra em seu papel de protagonista a habilidade de conferir densidade ao texto proferido, externando as lutas vividas na sua mente no caminho.

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Além da solidez da atuação de Chiwetel Ejiofor, que trabalha em expressões faciais toda a sua jornada individual, há ainda a notável performance de Tilda Swinton, escalação que sofreu com polêmicas de whitewashing. Segura, alia serenidade com o misterioso sorriso de alguém que possui um conhecimento muito maior daqueles que a cerca, sempre pontuada com nuances que denotam total controle do material narrativo.

 

No entanto, o filme foge da perfeição e algumas falhas expressivas são notadas ao longo da trama. A mais importante concerne ao desenvolvimento precário do vilão principal, Kaecilius, que sofre com a desproporção entre seus anseios grandiloquentes e a força demonstrada, sucumbindo de vez no terceiro ato por uma escolha narrativa um tanto clichê dos filmes de super-heróis. A má estruturação é extensiva à caracterização da personagem de Rachel McAdams, que vive a doutora Christine Palmer, em função meramente acessória. Ademais, a falta de inventividade do modelo narrativo também pode ser um ponto de debate, tendo em vista as expectativas dos espectadores: enquanto alguns se sentirão confortáveis com uma abordagem mais familiar, outros, que anseiam pela ampliação do universo cinematográfico através de maior investimento narrativo dos temas, poderão sair um tanto frustrados.

Mesmo com problemas, “Doutor Estranho” mostra-se sólido em linhas gerais, combinando o entretenimento esperado com uma extensão significativa do universo até então trabalhado, claramente relevante nos filmes futuros da Marvel.

Observação: Como esperado, há duas cenas pós-créditos, ambas importantes em estabelecer conexões para as produções futuras.

 

Ficha técnica dr estranho poster


Ano:
 2016

Duração: 115 min

Nacionalidade: EUA

Gênero: aventura, fantasia

Elenco: Benedict Cumberbatch, Rachel McAdams, Tilda Swinton, Chiwetel Ejiofor, Mads Mikkelsen

Diretor: Scott Derrickson

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

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