O ator Selton Mello e o produtor Júlio Uchôa reuniram-se com a imprensa em São Paulo para promover o novo filme de 300ml, “Soundtrack”. A alcunha esconde uma dupla de diretores que não revela o nome. O longa-metragem, filmado na Barra da Tijuca, recria o ambiente de uma estação internacional de pesquisa no Ártico. Na estória, Cris (Selton Mello) viaja até o local para conceber sua nova exposição. A ideia é tirar selfies no ambiente inóspito enquanto ouve músicas pré-determinadas. Assim, posteriormente, quando as pessoas virem as suas obras ouvindo as mesmas músicas, poderão sentir o mesmo que ele naquele momento. O conceito é recebido com desdém pelo grupo de cientistas, formado por Mark (Ralph Ineson), Rafnar (Lukas Loughran), Huang (Thomas Chaanhing) e Cao (Seu Jorge), o que gera tensão entre as partes.

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Sobre o longo processo do filme, desde a concepção à finalização, Selton Mello revelou que “Soundtrack começou há dez anos com um curta chamado “Tarantino’s Mind”, que também foi escrito e dirigido por essa mesma dupla, 300 ml. Eles são dois diretores muito talentosos, muito visionários, que tem uma forma de enxergar o cinema muito peculiar”. Júlio Uchôa, produtor, comentou sobre as dificuldades do projeto: a demora em conseguir captar recursos financeiros, as pesquisas feitas na Islândia, o transporte de 3 toneladas de neve para um estúdio no Rio de Janeiro e os testes com atores de nacionalidades diferentes via skype para compor um elenco verdadeiramente eclético, adequado à realidade desse tipo de estação. Sobre a inserção de um produto tão diferente entre os filmes nacionais, ele disse que “o setor do audiovisual está forte, robusto, trazendo várias possibilidades. Este longa é um primor artístico e é uma honra poder apresentar uma obra dessa qualidade para o nosso público”, ao que Selton complementou: “eu não podia esperar nada deles que não fosse algo assim, diferente, inusitado, bonito”.

 

 

O ator discursou sobre as diferentes camadas presentes em “Soundtrack”. “Ele fala sobre amizade e encontros. Existe um preconceito quando o Cris chega ali. Ao longo do filme, o protagonista vai ficando encantado por esses cientistas fazendo coisas nobres para a humanidade, ao passo que estes vão compreendendo a beleza e delicadeza do trabalho do Cris. O entendimento do outro é muito bonito”. Ele ressaltou o talento de Ralph Inesson, ator inglês que interpreta Mark, a quem disse ter um encantamento verdadeiro. Sobre o processo de construção do seu personagem e o processo de filmagem, ele disse que cada vez mais acredita no despreparo, em estar aberto enquanto ator para as possibilidades que se apresentam no set. Neste caso,  os atores estrangeiros chegaram perto das filmagens. Assim, o relacionamento entre eles foi sendo construído gradativamente, algo que, para ele, transparece na tela. Sobre o assunto, Júlio enfatiza que essa dinâmica foi acentuada pela decisão dos diretores de filmar em sequência.

 

 

Sobre a experiência de filmar com chroma key, o ator disse: “para mim foi inspirador, pois na verdade a base do trabalho de atuação é a imaginação. Assim, ao trabalhar em um estúdio nessas condições,  você vivencia a coisa mais primitiva do ofício”. Ele ainda destacou a qualidade técnica da equipe: “eu acho impressionante o trabalho de pós-produção desse filme, é a prova da nossa maturidade técnica. Isso abre até uma nova era de possibilidades. Eu sabia que os 300ml teriam um olhar muito apurado para fazer isso muito bem feito”. Quando perguntados sobre as propositais contradições levantadas no roteiro, Selton não perdeu a oportunidade para brincar: “é a falta que os diretores fazem nessa mesa”. Júlio aproveitou para ressaltar que “o filme eleva o pensamento, pois ele não encerra nenhum conceito”.

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Um dos aspectos mais impactantes do longa é a sua trilha sonora, essencialmente incidental, o que gera certa estranheza em alguns momentos. Perguntado sobre o assunto, Júlio revelou ser essa a intenção dos diretores desde a construção do projeto, o que acabou fornecendo o título da obra. Ele ainda falou das dificuldades que teve enquanto produtor em conseguir a liberação dos direitos, processo que levou dois anos.

 

Por fim, o ator e o produtor aproveitaram para falar sobre a exposição “Soundtrack”, que fica em cartaz no MIS (Museu de Imagem em Som, em São Paulo) dos dias 21 de junho a 16 de julho. Nela, estão as ditas “selfies” de Cris, na verdade fotografias tiradas logo após cada cena pelo fotógrafo Oscar Metsavath. Ela é, na verdade, a exposição do personagem, já que os visitantes são convidados a verem as imagens com headphones, onde as músicas do filme serão tocadas. Os dois se mostraram muito felizes com o resultado e Selton reafirmou o caráter sensorial do filme, transposto para a exposição. Já Júlio, enfatizou a oportunidade de estender a comunicação com o grande público.

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