Por Luciana Ramos

 

“Em Nome da Lei”, novo filme de Sergio Rezende, propõe-se a discutir o problema do contrabando entre fronteiras a partir da ótica investigativa, explorando a contribuição entre procuradoria, juiz e polícia federal no processo. Dotado de complexidade temática, o filme tem sua relevância aprofundada dado o interesse recente da população brasileira em acompanhar o processo judicial de um dos maiores casos de corrupção já registrados no país. No entanto, perde força ao inserir desnecessariamente ares de “filmes de justiceiro” na trama, balançando entre argumentações lógicas e resoluções clichês comuns ao gênero de ação.

A trama parte do ponto de vista de Vítor (Mateus Solano), juiz idealista encarregado de assumir a comarca da região entre a fronteira de Brasil e Paraguai, ambiente notório pelo contrabando desenfreado. Lá, descobre que as leis parecem submeter-se a Gomes (Chico Díaz), espécie de chefão do local, que mira o tráfico de drogas como forma de expansão do seu poder.

Determinado a desmantelar o crime na região, Vítor lidera uma investigação, tendo como aliados a procuradora Alice (Paolla Oliveira) e o chefe da Polícia Federal Elton (Eduardo Galvão). Porém, sua arrogância e ansiedade podem levar a ruína do processo e, acima de tudo, pôr em risco a segurança dos envolvidos.

 

em nome da lei 1

 

O que começa como um atrativo debate sobre os trâmites legais e desvios ocasionais do cumprimento da lei que a corrupção permite logo perde-se em um emaranhado de acontecimentos frenéticos que pouco contribuem para o desenvolvimento do tema. O problema parece ser a falta de confiança no próprio material, que resulta em atalhos narrativos como excesso de reviravoltas e passagens apelativas com direito a cenas em slow-motion e música melancólica de fundo, que prejudicam imensamente a qualidade como um todo.

Tais escolhas tornam “Em Nome da Lei” uma obra apressada, ansiosa em contar muitas coisas ao mesmo tempo (várias delas absolutamente desnecessárias) sem se dar o trabalho de ligar os fatos ou dar às sequências o tempo que merecem. Nesse sentido, é visível a falha da edição, cuja fragmentação das cenas é tamanha que as faz parecer inacabadas.

O filme caminha equilibrando-se entre a sua força inerente com a extrema necessidade de agradar o público a qualquer custo até quase o seu final, quando desanda de vez. Nesse ponto, os esforços racionais são deixados de lado e, de uma hora para outra, o longa assume de vez seu caráter justiceiro, um total contrassenso à sua própria proposta.

Cabe ainda ressaltar a falha na direção dos atores, nada mais que o reflexo de um problema sério dos filmes nacionais: comumente, o espectador depara-se com produções onde estes abusam da caricatura na concepção dos personagens ou permanecem apáticos. Infelizmente, o longa de Sérgio Rezende não foge à regra: a frustração pela falta de maior entrega dramática dos atores principais em momentos-chave é duramente sentida.

Diante de tantos obstáculos, “Em Nome da Lei” não deixa de se mostrar aquém do seu potencial. Ainda assim, reflete um avanço em termos de complexidade temática no cenário cinematográfico nacional. Fica a esperança de que projetos similares no futuro apostem mais na qualidade do seu material e tenham confiança de que, em troca, ganharão o apreço do espectador. Ele certamente virá.

 

Ficha técnica em nome da lei poster


Ano:
 2016

Duração: 115 min

Nacionalidade: Brasil

Gênero: drama, suspense, ação

Elenco: Mateus Solano, Paolla Oliveira, Chico Díaz, Eduardo Galvão

Diretor: Sergio Rezende

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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