Por Luciana Ramos

 

Embora seja parte natural da vida, perder um ente próximo é sempre uma tarefa dolorosa. No caso do escritor Alexandre (Guillaume de Tonquédec), a morte do seu pai foi uma experiência muito pior, dadas as circunstâncias: o idoso subitamente colapsou na sua frente enquanto era ignorado pelo filho, mais envolvido com o trabalho do que interessado em conselhos.

Condenado a lidar com seus sentimentos conflitantes – as mágoas do passado entrelaçadas à latência da dor – o protagonista revira sua arena de memórias até escutar uma voz conhecida…a do seu pai. Somente quando este se concretiza em sua frente que Alexandre pondera estar perdendo a cabeça. A terapeuta, única pessoa com quem é capaz de se abrir, revela o óbvio: há negócios pendentes entre os dois, os quais ele deve resolver para se recuperar do luto.

Porém, Jacques (François Berléand) é mais do que uma aparição. Ele dialoga, interfere subitamente nas conversas, condena o filho. Este não se sente, portanto, privilegiado, mas vítima de uma aporrinhação sem limites, a qual está determinado a expurgar de vez quando se compromete em passar um final de semana com sua família. Quem sabe, com mais pessoas presentes, se o velho não muda de foco ou simplesmente se contenta em desaparecer?

Em meio ao irmão (Jérémy Lopez) nervoso e consumido pelo trabalho, que hospeda um atleta (Papi Tokotuu) a fim de convencê-lo a se tornar seu agente; a esposa deste (Marie-Julie Baup), que é instável e oscila bastante em temperamento; Max (Jules Gauzelin), o seu filho pequeno, com quem não possui a intimidade desejada e a mãe Marguerite (Josiane Balasko), que parece não estar lidando bem com a solidão, Alexandre vê no caos a oportunidade de reavaliar todos os seus laços.

Previsivelmente, ele logo percebe ter conduzido a vida negligenciando os mais próximos, comportamento pelo qual culpa Jacques, que fez o mesmo. Porém, diversas situações o desafiam a assumir as responsabilidades sobre suas escolhas e adequar suas prioridades, sendo um momento especialmente devastador a conversa franca que tem com Roxane (Isabelle Carré), que já havia anunciado que não o aguentava mais.

Seguindo um molde conhecido e transitando entre a comédia e o drama, o filme escrito e dirigido por Éric Besnard aborda temas tão conhecidos como universais e, portanto, válidos. No entanto, é indispensável a percepção de que, em certos momentos, ele exagera nas caracterizações – seja na excentricidade da mãe, visualmente enfatizada na cena em que é carregada em uma cama até a praia, seja na escolha da música “Fathers and Sons”, de Yusuf (Cat Stevens) como trilha sonora principal.

Estas oscilações impedem a mensagem trabalhada no filme de atingir um maior impacto emocional, mas, ainda assim, é capaz de satisfazer o público que gosta de produções leves pautadas nas discussões familiares.

Ficha Técnica

Ano: 2020

Duração: 90 min

Gênero: drama, comédia

Direção: Éric Besnard

Elenco: Guillaume de Tonquédec, François Berléand, Josiane Balasko

Avaliação do Filme

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