Por Paulo Lannes

 

“Eu, Tonya” foi uma grande aposta para a carreira da australiana Margot Robbie. Uma aposta que deu certo. Sua atuação como Tonya Harding, patinadora estadunidense que provocou polêmica na década de 1990 ao se envolver em um caso de agressão a uma colega do esporte, agradou o público e a crítica especializada, levando-a a ser uma das atrizes indicadas ao Oscar deste ano.

Margot aproveitou a personagem, repleta de contrastes, para mostrar todo seu talento.  Tonya era obrigada a conviver com a violência doméstica, ao passo que revelava ser uma gênio da patinação do gelo, sendo a primeira americana à realizar um “triple axel” (movimento em que a atleta se lança no ar de costas e rodopia algumas vezes). Dessa forma, não são poucas as vezes em que a atleta se via obrigada a se transformar e sorrir diante dos jurados e da plateia, ainda que tivesse acabado de sofrer agressões verbais por parte da mãe – interpretada por Allison Janey, forte concorrente do pelo prêmio de melhor atriz coadjuvante no Oscar – e ser espancada pelo marido. Fica a dica: preste atenção na cena em que Margot se maquia e treina o sorriso enquanto chora. É chocante.

 

 

Porém, o filme não se ateve à esdrúxula história da patinadora. A trama traz uma forte crítica ao modo de vida norte-americano, que afirma o sucesso como o resultado do esforço de um indivíduo. Tonya, ainda que superasse toda sua construção de vida baseada em costumes típicos do universo caipira estadunidense e fosse perfeita em sua técnica no esporte, era constantemente desvalorizada pelos jurados, que insistiam em afirmar que ela não poderia ser a principal representante de seu país por ser pobre e fruto de uma família problemática. A meritocracia não teve vez no histórico da patinadora.

Para tornar a narrativa plausível, até então difícil de ser digerida pelo público norte-americano, o roteirista Steven Rogers lançou mão em diferentes formas de narrar os fatos reais. Assim, o filme traz uma Tonya de 40 anos sarcástica, que confessa à câmera seu envolvimento no ataque, como que conferisse ao espectador o papel de juiz, e apresenta, ao longo da trama, passagens marcantes da infância, da adolescência e da vida adulta da atleta como um julgamento que desvela a trajetória da réu aos poucos. Em alguns momentos, os personagens interrompem suas ações para olhar à câmera e tecer um comentário sobre o que acabou de ocorrer, realçando o tom de julgamento que perpassa a obra cinematográfica.

 

 

No final da narrativa, um juiz encerra de vez a carreira de Tonya, proibindo-a de participar das competições de patinação pelo resto de sua vida. A cena lembra ao espectador que a vida dela sofreu um tremendo baque, ainda que a vida da atleta o permita a relativizar sua atitude pouco ética. Um toque bastante realista para uma trajetória extremamente surreal.

 

Pôster

 

 

 

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 120 min

Gênero: drama, biografia

Diretor: Craig Gillespie

Elenco: Margot Robbie, Sebastian Stan, Allison Janey

 

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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