Por Luciana Ramos
“Festa da Salsicha” é o fruto da imaginação elaborada de Seth Rogen, comediante que encontrou uma carreira sólida na produção de filmes politicamente incorretos, recheados de sarcasmo, grosserias e uma boa dose de nonsense. Os citados ingredientes foram amplamente incorporados nessa animação voltada para os adultos, tendo como base a perspectiva existencial dos alimentos como elemento de conflito.
Enfileirados em prateleiras limpas e organizadas, estes aguardam ansiosamente pela abertura do supermercado onde moram e, assim, pela chegada dos humanos. Cunhados por eles como “deuses”, estes carregam em si a promessa do paraíso, nada mais do uma vida longe das embalagens plásticas.
Porém, a confusão gerada durante uma compra separa alguns deles, como a salsicha Frank (voz de Seth Rogen) e a baguete Brenda (voz de Kristen Wiig) do seu destino. Na busca pela reinserção nas prateleiras e, assim, uma segunda chance, eles descobrem a terrível verdade sobre a sua finalidade e decidem alertar os demais. Enquanto resultado artístico, “Festa da Salsicha” abarca duas pretensões conflitantes que se alternam sem prejuízo da trama até meados do segundo ato.
A primeira refere-se ao tom sátiro da obra. As piadas visuais ácidas que remetem à filmes de terror e de guerra são construções inteligentes que criticam os hábitos humanos, ridicularizando-os, em prol do humor. A estas somam o sábio uso da diferença entre perspectivas e, assim, do tempo, entre homens e alimentos. Neste panorama, incluem-se ainda anedotas sobre a rivalidade entre judeus e árabes (na forma de discussão entre um bale e um pão sírio), a relação das convenções sociais e o sexo e críticas à adoração excessiva de ideologias.
O tom satírico é frequentemente acompanhado de piadas mais grosseiras sobre anatomia e sexo, recheadas de palavrões. Engraçadas de início por fugirem completamente das expectativas dos filmes do gênero, elas são amortecidas ao longo da trama pela repetição, gerando um cansaço no espectador. Este é potencializado pela aparente necessidade de extrapolar os limites continuamente, o que desemboca nos limites do mau gosto.
Desse momento em diante, qualquer tom reflexivo e bem humorado é perdido, restando apenas a gratuidade das piadas, coroadas em um final completamente desconexo de tudo construído até o momento, algo já praticado em “É o Fim”, outra produção de Rogen.
Desse modo, “A Festa da Salsicha” torna-se um exemplo de como uma obra inventiva perde a sua relevância por conta de sua necessidade em vender-se como um produto diferenciado. Neste caso, a animação “adulta”, que troca uma reflexão extremamente divertida pela sucessão de piadas sobre uma ducha vaginal.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 89 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: animação
Elenco: Seth Rogen, Kristen Wiig, Paul Rudd, Jonah Hill
Diretor: Greg Tiernan, Conrad Vernon
Trailer:
Imagens: