Por Murillo Trevisan
A estratégia de levar a temática do horror ao público infantil não é nenhuma novidade. Nos anos 80, as crianças cresceram assistindo a filmes como “Gremlins”, “Os Caça-Fantasmas” e “Deu a Louca nos Monstros”, se calejando contra o medo para que hoje pudessem apreciar obras como “IT – A Coisa”. Visto que o gênero atualmente é o mais lucrativo do mercado, com baixo custo e bilheterias estrondosas, o plano de formar futuros apreciadores do terror continua válido.
Baseado na obras de R.L Stine – também conhecido como o “Stephen King da literatura infantil” – “Goosebumps – Monstros e Arrepios” estreou em outubro de 2015 para trazer amenidade às histórias de terror e não deixar os pequenos de fora dos grandes eventos cinematográficos de Halloween. O longa dirigido por Rob Letterman (“O Espanta Tubarões “) continha as doses certas de horror e humor, trazendo para compor o elenco nomes como Amy Ryan (“The Office”), Timothy Simons (“Veep”), Dylan Minnette (“13 Reasons Why”) e o próprio Jack Black (“Escola de Rock”). Além, é claro, de prestar homenagem ao seu criador, com diversas referências às obras literárias de Stine.
Sua oportuna continuação, “Goosebumps 2: Halloween Assombrado”, deixa de lado todo o conceito explorado por Letterman e opta por apresentar apenas uma aventura rasa. Isso fica claramente explícito quando o próprio “gancho” do final do primeiro longa é totalmente descartado, perdendo a relação entre as histórias, apesar de os fatos anteriores existirem naquele universo.
Na trama escrita por Rob Lieber (“Pedro Coelho”), Sonny (Jeremy Ray Taylor) e Sam (Caleel Harris) encontram o primeiro manuscrito de R.L Stine (Jack Black). Ao destrancar o livro eles abrem o portal para que o boneco Slappy saia dos contos de terror, utilizando seus poderes para dar vida às fantasias monstruosas de Halloween. Os garotos então contarão com a ajuda de Sarah (Madison Iseman), irmã mais velha de Sonny, para mandar o boneco de volta ao lugar de onde pertence.
A alteração do elenco principal também não prevalece a sequência. Substituir o carismático trio formado por Dylan Minnette, Odeya Rush (“Lady Bird: A Hora de Voar”) e Ryan Lee (“Bem-vindo aos 40 “) por um mais jovem corrobora ainda mais com o roteiro imaturo. Apesar do talento demonstrado em “IT – A Coisa”, Jeremy Ray Taylor se mostra perdido ao ter que atuar com monstros de CGI e não denota sintonia com Caleel Harris (“Castle Rock”) e Madison Iseman (“Jumanji: Bem-Vindo à Selva “), companheiro de tela em quase 90% do filme. A volta de Jack Black se faz apenas para pontuar a contínua existência do autor como personagem ainda nesse universo, uma vez que ele aparece apenas no terceiro ato, servindo mais como uma piada ao invés de acrescentar algo importante à trama – assim como acontece com Ken Jeong (“Se Beber, Não Case!”), que apesar de aparecer desde o início, também se faz dispensável.
Ao se tratar da existência de terror no longa, mais uma vez torna-se impossível a não comparação entre as duas obras existentes na franquia. Enquanto no predecessor o medo, mesmo que leviano, está implícito na essência desde antes do surgimento dos monstros, na sequência torna-se algo expositivo e banal, com criaturas espalhadas pela cidade sem demonstrar qualquer perigo.
Apesar do declínio criativo, “Goosebumps 2: Halloween Assombrado” prega um princípio de coragem, onde enfrentar os medos – seja de finalizar um trabalho escolar ou escrever um texto – pode ser recompensador. Uma obra que funcionaria melhor como um conto isolado, ao invés intitulá-la como continuação.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 90 min
Gênero: aventura, comédia, família
Direção: Ari Sandel
Elenco: Jeremy Ray Taylor, Caleel Harris, Madison Iseman, Wendi McLendon-Covey, Ken Jeong, Jack Black
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