Por Murillo Trevisan

 

Harold Soyinka (David Oyelowo) é o típico personagem generoso, um imigrante nigeriano benevolente, que foi para os EUA tentar uma vida melhor de maneira honesta. Com a ajuda do amigo Richard (Joel Edgerton), conseguiu um bom cargo na Cannabax Technologies, empresa do ramo farmacêutico que desenvolveu uma maconha medicinal em forma de comprimido.

Tudo ia bem, até sua vida virar de cabeça para baixo de uma hora para a outra: ele descobre que está endividado, sua mulher (Thandie Newton) está lhe deixando e seu emprego corre grande risco, pois escuta boatos de que a empresa está sendo vendida. Na tentativa salvar a sua carreira, ele se oferece para viajar ao México com Richard e sua sócia Elaine (Charlize Theron) para entregar a fórmula do comprimido à fábrica de lá.

Durante essa empreitada, o protagonista, antes cego ao que ocorria ao seu redor, percebe-se envolto em um esquema escuso dos proprietários. Humilhado e diminuído, Harold se convence de que está sendo passado para trás e opta por simular seu sequestro para arrancar dinheiro deles.

 

A jornada dirigida por Nash Edgerton (“O Quadrado”) e roteirizada a duas mãos – Anthony Tambakis (“Guerreiro”) e Matthew Stone (“Amor Custa Caro”) – se mostra dúbia a partir deste ponto, pois esquece o moralismo antes estabelecido para o seu protagonista e passa a transmitir a mensagem de que mesmo os mais crédulos e idealistas acabam se envolvendo com alguma ilegalidade. Embora pareça um equívoco, a desconstrução do personagem se faz necessária para que a trama possa seguir e, dentro deste contexto, suas motivações são perfeitamente compreensíveis.

Por conta das confusões motivadas por sua artimanha, todos ficam à procura de Harold, incluindo traficantes mexicanos, que passam a chamá-lo pejorativamente de “Gringo”. Os delineamentos (ou falta de) conferidos a estes personagens demonstram um problema narrativo estrutural: caracterizados aqui com estereótipos antiquados, são em sua totalidade racistas e criminosos. Adotando este tipo de generalização, que camufla um discurso xenofóbico,o roteiro destoa da jornada principal e mostra-se mais raso que o esperado de comédias de qualidade.

A esse deslize narrativo sobrepõe-se outro, comum a tramas que se subdividem em muitos núcleos: em prol do maior desenvolvimento da tríade de personagens principais, que têm espaço de tela suficiente para demonstrarem suas motivações e personalidades, outros acabam sendo relegados à função acessória. Esse é o caso de Sunny (Amanda Seyfried), subutilizada, apesar de ter o importante papel de colocar Harold na linha moral novamente. Esse momento, em especial, é privilegiado pela estética que, através de cores complementares, expõe a incerteza sobre seus princípios.

 

Mesmo irregular, o material narrativo consegue provocar risadas em pontos-chave, muito por conta das excelentes atuações. David Oyelowo, que antes representou a dramática história de Martin Luther King Jr. em “Selma” (2014), agora assume a persona de bobalhão recatado. Muito do tom cômico vem por parte dos exageros da sua performance, lembrando o tipo trabalhado por Kevin Hart ou Dave Chappelle nos seus tempo áureos. Já Charlize Theron mostra-se mais uma vez formidável ao encarnar o papel de uma empresária megera, que usa de todo e qualquer artifício para se dar bem, independente de quem ela tenha que passar por cima; no caso, seu ingênuo funcionário.

Conduzindo o tom cômico pelos inúmeros fracassos às tentativas estratégicas por parte de todos os núcleos, “Gringo: Vivo ou Morto” tenta ser uma “comédia de erros”, copiando o molde dos irmãos Coen. Porém, ao contrário de “Fargo” ou “Queime Depois de Ler”, que trabalham de maneira brilhante esta fórmula, o longa de Edgerton perde-se em meio a reviravoltas (utilizadas em excesso), preconceitos e clichês que caíram em desuso.

 

Pôster

 

 

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 111 min

Gênero:  ação, comédia, crime

Direção: Nash Edgerton

Elenco: David Oyelowo, Joel Edgerton, Charlize Theron, Amanda Seyfried, Harry Treadaway, Thandie Newton

 

Trailer:

 

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

Veja Também:

Rivais

Por Luciana Ramos Aos 31 anos, Art Donaldson (Mike Faist) está no topo: além de ter vencido campeonatos importantes, estampa...

LEIA MAIS

Guerra Civil

Por Luciana Ramos   No fascinante e incômodo “Guerra Civil”, Alex Garland compõe uma distopia bastante palpável, delineada nos extremos...

LEIA MAIS

A Paixão Segundo G.H.

Por Luciana Ramos   Publicado em 1964, “A Paixão Segundo G.H.” foi há muito considerado um livro inadaptável, dado o...

LEIA MAIS