Por Luciana Ramos

 

Para “Hotel Artemis”, primeira empreitada do roteirista Drew Pearce na direção, ele concebeu uma Los Angeles apocalíptica. Em um futuro não tão distante, a água, vital para sobrevivência, foi privatizada e os preços exorbitantes cobrados levaram ao colapso social, representado pelas manifestações populares em confronto direto com a polícia, agindo como repressora estatal.

Em meio ao pânico, dois irmãos decidem roubar um banco e, durante a fuga, acabam feridos. Acuados pela necessidade de abrigo e atendimento médico, decidem se hospedar no Hotel Artemis. Por trás de uma fachada retrô, cercada de cadeados dourados e papéis de paredes gastos, encontra-se uma tecnologia médica de ponta, comandada pela Enfermeira (Jodie Foster), que também atua como gerente.

 

 

A entrada no local, no entanto, somente é permitida a criminosos autorizados por um chip implantado nos seus pulsos, que alerta se eles têm renovado a mensalidade do serviço. O Hotel, assim, presta-se como garantia para casos de necessidade e possui regras bem específicas para seus hóspedes.

A mais importante é a supressão das identidades: ao chegar no local, cada fora da lei ganha um apelido – o nome do quarto onde ficará – e só deve ser chamado assim, uma forma de garantir a sua segurança. Mortes e confrontos físicos são estritamente proibidos e qualquer um que descumpra as ordens pode perder seu acesso para sempre.

A Enfermeira gerencia tudo metodicamente, seguindo procedimentos e lembrando a todos das regras, contando com a ajuda de Everest (Dave Bautista), seu antigo paciente. Suas corridas pelo extenso corredor marcam a situação crítica dos hospedes, muitos moribundos, mas, entre uma dose e outra de uísque, ela cumpre o seu dever. Porém, sua atitude muda radicalmente quando ouve alguém chamando seu nome de batismo pela câmera de segurança da rua.

Superando a crise de pânico, ela vai ao encontro de Morgan (Jenny Slate), antiga amiga de seu filho, que faleceu tragicamente quando adolescente. O elo emocional a faz abandonar as normas que criou; no entanto, aceitar uma policial em um ambiente dominado por bandidos pode ser extremamente perigoso. Como se não bastasse, Waikiki (Sterling K. Brown) descobre que seu irmão roubou uma caneta repleta de diamantes raros do Rei Lobo (Jeff Goldblum), mafioso que comanda a cidade. A chegada deste gravemente ferido ao local desestabiliza ainda mais a situação, elevando o pânico de todos.

O diretor faz um excelente trabalho em montar a atmosfera do ambiente onde se passa quase a totalidade da ação. Os contrastes visuais entre tons nostálgicos e futuristas funcionam bem; as pequenas e diferentes peculiaridades do hotel tornam-no apelativo o bastante para instigar o espectador. A narrativa é marcada pelas escolhas musicais da protagonista, em geral canções suaves dos anos 70 e 80, que contrastam com a sensação de perigo iminente.

 

 

“Hotel Artemis” vai envolvendo aos poucos, apresentando elementos e personagens que, se entrarem em contato, podem desencadear uma onda de violência. Ao desenvolvê-los, no entanto, perde o ímpeto por apelar a soluções narrativas fáceis, que frustram pouco a pouco as expectativas de reproduzir na parte interna daquele local aparentemente seguro o caos absoluto que envolve as ruas da cidade. De fato, toda a contextualização social feita é amplamente desperdiçada por não ser debatida com maior veemência.

Um dos pecados do roteiro é a participação da policial Morgan na trama. Ainda que sirva para aprofundar a Enfermeira, ela permanece subutilizada; sendo assim, a oportunidade de se obter, através dela, um perfil do “outro lado” é absolutamente perdida. Esse sentimento de decepção é reiterado com a chegada do Rei Lobo/Niagara: amplamente mencionado pela sua crueza, ele é relegado a interpretação caricata de Jeff Goldblum, reforçada por uma gangue meio abobalhada que espera do lado de fora, sob ordens do seu filho (Zachary Quinto) – este aparece tão pouco e é tão superficial que nem ultrapassa a barreira da participação especial.

Aos solavancos, a trama caminha rumo ao seu clímax, marcado por escolhas clichê, que desembocam na antecipada violenta. Sem uma fundamentação sólida, esta não consegue proporcionar a satisfação esperada. A forma como o desfecho despreza elementos vitais da sua protagonista somente intensifica a sensação de que uma ótima ideia foi desperdiçada, talvez fruto da preocupação excessiva com a recepção dos espectadores, o que levou Drew Pearce a subestimá-los.

 

 

Pôster

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 94 min

Gênero: ação, crime, suspense

Direção: Drew Pearce

Elenco: Jodie Foster, Sterling K. Brown, Sofia Boutella, Charlie Day, Dave Bautista, Jeff Goldblum

 

Trailer:

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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