Por Murillo Trevisan

Após o sucesso de “IT: A coisa”, lançado em 2017, o talento do diretor Andy Muschietti (“Mama”) – sempre em parceria com sua esposa e produtora Barbara Muschietti – ficou evidente não só para os fãs do gênero de terror, mas também para o mercado cinematográfico no aspecto geral. A conquista de público e crítica, e uma sequência confirmada logo nas primeiras semanas de exibição, demonstrava o crédito que o promissor cineasta ganhara com o estúdio.

Exatos dois anos depois, eis que chega o Capítulo Dois (e final) dessa jornada dos integrantes do “Clube dos Otários” (ou Perdedores, no original). Dessa vez, vinte e sete anos após o confronto com o palhaço Pennywise (Bill Skarsgård), os garotos estão afastados da cidade de Derry, seguindo em frente com suas vidas ainda um tanto conturbadas, tendo apagado da memória os acontecimentos perturbadores de 1990.

O único que permaneceu foi Mike, interpretado pelo talentoso Isaiah Mustafa (“Shadowhunters”), que continuou obcecado pelo fato, estudando e investigando a fundo. Depois do aparecimento de uma nova vítima, ele contacta o grupo exigindo o cumprimento do pacto que fizeram quando crianças, de enfrentar “A Coisa” unidos e por um fim na maldição de uma vez por todas.

Como uma sequência praticamente direta do longa de 2017, o segundo capítulo se aproveita dos acertos de seu antecessor e repete a mesma fórmula de terrir, sem muita inovação. O humor que estava mais centrado no Richie (Finn Wolfhard), se mantêm em sua versão adulta, sendo interpretado agora pelo comediante Bill Hader (“Barry”), que se encaixa perfeitamente na essência e aparência do personagem. E isso se repete para todos os outros integrantes, que nas versões mais velhas carregam os trejeitos de cada criança, a exemplo de Eddie (James Ransone) que continua agitado e hipocondríaco.

Além de Mustafa, Hader e Ransone, também estão no elenco principal Jay Ryan (“Mary Kills People”), Andy Bean (“Monstro do Pântano”), James McAvoy (“Fragmentado”) e Jessica Chastain (“A Grande Jogada”). Esses dois últimos carregando o filme com todo seu carisma, talento e experiência.

Sem a perspectiva das crianças, o filme se torna menos intimista e mais maduro. Com um orçamento de mais que o dobro (US$ 80 milhões, contra US$ 35 milhões em 2017), ele se aprofunda mais nos efeitos gráficos, robustecendo as bizarrices que “a coisa” pode se transformar. O amadurecimento também se faz presente nas relações dos personagens, que ao entrarem em contato com as memórias vividas em Derry, ganham uma complexidade necessária, mas que pode-se tornar exaustiva por demandar muito tempo de tela, tendo que fazer um link de seis pessoas diferentes.

Apesar da necessidade de apresentar essas tramas, a duração de quase três horas de filme acaba sendo um ponto negativo. Ele perde muito tempo se fundamentando em flashbacks das versões mais jovens do Clube dos Perdedores. Além disso, Andy Muschietti aproveita o último filme da franquia (já que não conseguiu um desejado terceiro com o estúdio) para fazer homenagens o atulhando de easter eggs. Fora a sua curta aparição, ele também convidou alguns cineastas para fazer algumas pontas, como o experiente Peter Bogdanovich (“Lua de Papel”) ou o prodígio Xavier Dolan (“Eu Matei Minha Mãe”). Sem contar a divertida cena que homenageia o próprio Stephen King, autor do livro.

Mais sensato e menos assustador, “IT: Capítulo Dois” se demonstra um ótimo filme e competente fechamento de saga, mas que decresce na inevitável comparação com a excelência de seu antecessor. O carisma do elenco novamente segura as pontas, criando assim uma fácil e agradável conexão entre público e personagem.

Ficha Técnica

Ano: 2019

Duração: 169 min

Gênero: Terror

Diretor: Andy Muschietti

Elenco: Jessica Chastain, James McAvoy, Bill Hader, Isaiah Mustafa, Jay Ryan, James Ransone, Andy Bean, Bill Skarsgård

Avaliação do Filme

Veja Também:

Rivais

Por Luciana Ramos Aos 31 anos, Art Donaldson (Mike Faist) está no topo: além de ter vencido campeonatos importantes, estampa...

LEIA MAIS

Guerra Civil

Por Luciana Ramos   No fascinante e incômodo “Guerra Civil”, Alex Garland compõe uma distopia bastante palpável, delineada nos extremos...

LEIA MAIS

A Paixão Segundo G.H.

Por Luciana Ramos   Publicado em 1964, “A Paixão Segundo G.H.” foi há muito considerado um livro inadaptável, dado o...

LEIA MAIS