Por Luciana Ramos
“Jogos Vorazes: A esperança – O final” encerra a saga de Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), jovem que se vê como símbolo da revolução contra a autocracia esmagadora da Capital. Assim como em outros casos, a decisão da separação do último livro em dois filmes distintos, numa clara tentativa de angariar maior lucro, repercutiu negativamente em ambas as partes.
Ao passo que “Jogos Vorazes: A esperança – Parte I” prejudicou-se com a lentidão do desenvolvimento da estória, a parte final sofre com a quantidade de passagens importantes incutidas ao longo de quase duas horas e meia. Como resultado, há uma oscilação considerável de ritmo, além da pouca exploração de alguns personagens importantes.
O filme começa imediatamente apos o término da primeira parte, com uma Katniss machucada, sem voz e atônita diante da agressão de Peeta (Josh Hutcherson). Enquanto se recupera, ela tenta ter um papel mais ativo na Revolução, o que lhe é negado pela Presidente Coin (Julianne Moore), dado o seu valor como símbolo da luta (e propaganda de Guerra), o Tordo.
A líder do Distrito 13 planeja a tomada da Capital e extermínio do poder do Presidente Snow (Donald Sutherland). Em meio a estratégias, surgem conflitos ideológicos entre Katniss e os restantes, em especial Gale (Liam Hemsworth). Enquanto ela se preocupa com uma abordagem mais ética, os demais acreditam na premissa que vale tudo em combate e usam do sofrimento dos outros distritos como justificativa de vingança, trazendo questionamentos interessantes à trama.
Até então lento, o longa ganha dinâmica quando os rebeldes finalmente marcham para a Capital, que teve seus arredores evacuados e transformados em uma Arena ao ar livre, com todos os tipos de armadilhas letais. A luta da unidade de combate de Katniss (convenientemente composta pelos personagens mais conhecidos do público) pela sobrevivência proporciona cenas de ação empolgantes.
Porém, os momentos de emoção duram pouco e “Jogos Vorazes: A esperança- O final” dá um salto em direção ao seu terceiro ato, suplantando passagens de extrema importância na trama, substituídas por diálogos altamente explicativos (ou as mostrando em cenas fragmentadas e pouco acabadas). O maior exemplo dessa falha narrativa é o encontro curto e verborrágico da protagonista com o Presidente Snow, cara a cara depois de tanta troca de ameaças.
Tal privação ao espectador acarreta na não saciedade das suas expectativas, cultivadas desde o primeiro filme, impactando negativamente na qualidade do longa como um todo. Mesmo assim, este consegue reerguer-se no final, acertando o tom e proporcionando o desfecho desejado pelos fãs.
Embora apresente alguns questionamentos interessantes sobre a lógica da perpetuação de poder, manipulação de massas, propaganda e fundamentos do totalitarismo, “Jogos Vorazes: A esperança – O final” não consegue aprofundá-los ao longo de seus 137 minutos, dada a quantidade de desdobramentos narrativos guardados para a parte final da saga. Como consequência, o resultado não deixa de ser desapontador, uma queda criativa em relação aos primeiros filmes, ótimos e mais concisos. Ainda assim, representa uma das melhores sagas adolescentes da atualidade, pintando um complexo e bem trabalhado futuro distópico através da jornada de uma personagem forte e corajosa.
Ano: 2015
Duração: 137 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: aventura, ação, ficção científica
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Julianne Moore, Donald Sutherland
Diretor: Francis Lawrence
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