Por Luciana Ramos

 

A história da humanidade, quando catalogada em seus fatos mais importantes, tende a resumir-se em poucos nomes, numa tentativa simplificadora de enaltecer a presença de líderes a frente dos movimentos sociais, políticos e, por que não, bélicos. Como em outros conflitos, o Holocausto sofreu desse mal, visto que a punição dos atos cometidos contra os judeus focou-se na alta hierarquia do Regime Nazista.

É notório, no entanto, que este recebeu alta adesão da população, tenha esta sido forçada a fazê-lo ou não. Desse modo, o clima de normalidade forçada após o término da Segunda Guerra Mundial não só camuflou a profunda vergonha sentida pela nação alemã como a existência de antigos aderentes do Nazismo que, com a sua derrocada, retornaram às suas atividades profissionais anteriores, como se nada tivesse ocorrido.

Com o intuito de expor e cutucar essa ferida, o diretor italiano Giulio Ricciarelli constrói “Labirinto de Mentiras”. No filme, baseado em acontecimentos reais, um jovem promotor recém-empossado interessa-se pelo relato de um pintor que afirma ter reconhecido um comandante de Auschwitz dando aula para crianças em uma escola da cidade.

Sem o menor conhecimento do que o campo de concentração possa significar (sentimento comum à maioria dos alemães, como enfatizado logo ao começo), Johann Radmann (Alexander Fehling) decide pôr os processos de multas de trânsito de lado para assumir seu primeiro grande caso. Pesquisando por testemunhos de sobreviventes do campo, depara-se com uma infinidade de relatos de horror, símbolo do completo desrespeito ao valor da vida humana que a Segunda Guerra representou.

Com pouca ajuda, decide então expor cada nazista que trabalhou em Auschwitz, dos funcionários de baixo escalão aos grandes burocratas. Para ele, todos possuem uma parcela de culpa no ocorrido e não bastou a punição dos principais comandantes no Julgamento de Nuremberg, já que este foi promovido pelos países aliados. A Alemanha, até o momento, em 1958, não havia julgado os seus. Dado a imensa falta de interesse das autoridades em fazê-lo, Radmann tomou para si tal missão.

labirinto 1

Ainda que pautado em uma estória forte e interessante, “Labirinto de Mentiras” sofre de grande oscilação narrativa por não parecer saber onde reside a sua força. O debate sobre a culpabilidade dos indivíduos em um movimento nacional pernicioso e vilanesco dilui-se na romantização da sua trama, moldada aos padrões Hollywoodianos, ainda que seja uma produção européia.

Assim, além da inclusão de um envolvimento amoroso bastante simplório, que serve como uma distração à questão principal, a inserção dos desdobramentos das descobertas de Johann na sua vida pessoal enfraquece o roteiro. Estes, claramente pontos de acentuação dramática, acabam por sofrer o efeito reverso pela forma rasa com que são explorados e, consequentemente, solucionados.

Porém, ainda que não seja contundente como outros filmes sobre os mesmos eventos, como o húngaro “O Filho de Saul”, “Labirinto de Mentiras”, escolhido pela Alemanha para concorrer a uma vaga no Oscar de Filme Estrangeiro, merece ser visto pela forma como oferece um panorama pouco conhecido do país: a desinformação como aliada da camuflagem vergonhosa dos crime cometidos no Holocausto e a repercussão da exposição dos seus agentes.

 

Ficha técnica labirinto poster


Ano:
 2014

Duração: 124 min

Nacionalidade: Alemanha

Gênero: drama

Elenco: André Szymanski, Alexander Fehling, Friederike Becht

Diretor: Giulio Ricciarelli

 

 

Trailer:

 

 

Imagens:

 

 

Avaliação do Filme

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