Por Luciana Ramos
Os primeiros instantes de Las insoladas, segundo trabalho do diretor argentino Gustavo Taretto, remetem esteticamente à Medianeras, excelente longa que travou um diálogo sobre amor e solidão em uma metrópole na era digital. São apresentados mais uma vez longos panoramas do skyline argentino, dessa vez encharcados pelos raios solares.
O sol é o fator propulsor da trama, que expõe os desejos e frustrações da classe média argentina dos anos 90, na pele de seis amigas que decidem passar o dia bronzeando-se no terraço de um prédio para uma apresentação de salsa à noite.
Em meio a diálogos pouco naturais sobre astronomia, confissões amorosas e renovações de votos de amizade, emerge o sentimento de aprisionamento do cotidiano e consequente reflexão de que, para elas, o verão argentino é o símbolo do esgotamento da vida urbana.
Com isso, surge o desejo de um recomeço pela promessa de uma viagem de quinze dias no ano posterior para Cuba. Contudo, para a sua concretização, cada mulher tem que economizar mais de dois mil dólares, um intransponível obstáculo para a maioria.
Assim, a trama desenrola-se por meio dos diálogos, com direito a desentendimentos e intrigas, trabalhando sempre no embate entre os sonhos e a realidade. Porém, apesar de algumas boas sacadas, Las insoladas perde-se na superficialidade.
As mulheres retratadas por Taretto no longa sofrem pela fraqueza de caracterização, que tende à misoginia. Este fato comprova-se nas ideias sugeridas para a solução objetiva do conflito, a falta de dinheiro para a viagem, completamente desnecessárias e um tanto desesperadas.
Ademais, há o delineamento de estereótipos pouco relevantes para a trama, como a da mulher burra em contraponto à inteligente, a sonhadora à pé no chão. A narrativa excessivamente arrastada consegue até superar os esforços inteligentes da direção de fotografia e arte em passarem a sensação de um verão escaldante.
Com todos esses problemas, Las Insoladas não consegue tornar-se relevante ao longo de suas duas horas. Cabe a nós esperar que os próximos trabalhos de Toretto sejam mais inspirados.
Ano: 2014
Duração: 102 min
Nacionalidade: Argentina
Gênero: comédia
Elenco: Marina Bellati, Elisa Carricajo, Luisana Lopilato
Diretor: Gustavo Taretto
Trailer:
Imagens: