Taylor Sheridan estabeleceu-se em Hollywood como um roteirista de renome ao escrever suspenses carregados de reflexão social (“Sicário: Terra de Ninguém”, “A Qualquer Custo”) e decidiu, para seu mais recente projeto, explorar um tópico pouco falado nos Estados Unidos: o número altíssimo de casos de estupro e morte de mulheres nativo-americanas.
Depois de alguns anos, “Terra Selvagem” ficou pronto e estava prestes a ser lançado quando o escândalo sobre Harvey Weinstein explodiu, o que impactou diretamente a produção pela incômoda ligação entre ficção e realidade: um filme que propõe um debate sobre abuso contra mulheres seria lançado por um produtor conhecido como predador sexual.
Com isso, Sheridan entrou em contato com o presidente da TWC, David Glasser, e exigiu a desvinculação da obra com a empresa, apagando o seu nome dos créditos. Ademais, conseguiu acordar que o dinheiro residual ganhado pelo filme (em plataformas de streaming, DVD e VOD) fosse encaminhado para um centro de ajuda a mulheres indígenas. Sobre isso, falou à revista Deadline: “os lucros que ele teria irão beneficiar pessoas que suportaram exatamente o tipo de abusos que ele praticava”.
Na mesma entrevista, ele contou que, caso sua exigência não fosse aceita, ele mesmo iria “matar” o filme, espalhar pelas redes sociais que ninguém o assistisse pois seria uma vergonha ver Weinstein “se beneficiando de uma obra que propõe uma reflexão sobre atrocidades que ele mesmo cometeu”.
“Terra Selvagem” foi apresentado pela TWC no Festival de Cannes desse ano, onde Sheridan ganhou o prêmio de direção na Mostra Un Certain Regard e, por isso, já tinha um plano de distribuição internacional bem montado, não sendo afetado pela postura combativa do diretor. Outras produções, no entanto, tiveram seus lançamentos cancelados indeterminadamente pela TWC, uma tentativa de esperar a poeira baixar para evitar desempenhos catastróficos nas bilheterias.
“Terra Selvagem” encontra-se em cartaz nos cinemas brasileiros e vale a pena ser conferido.
Fonte: Deadline