Por Luciana Ramos
Um farol em uma ilha isolada. Lânguidas paisagens filmadas ao pôr-do-sol. Cartas com promessas de amor eterno. A felicidade. A dor da perda. A esperança de um recomeço inesperado. O preço de uma escolha. A conexão entre os diversos elementos conectados em “A Luz Entre os Oceanos” denota o seu teor melodramático. Muito popular nos cinemas na sua época de ouro, hoje o gênero é por muitos repelido, dado o exagero com que trabalha os temas.
No entanto, é impossível ignorar sua força catártica, o que o faz ser ressuscitado por vezes nas mãos de algum diretor bem intencionado que deseja, através da reflexão moral, conduzir os espectadores às lágrimas.
É o caso de Derek Cianfrance que, com apenas dois longas anteriores (“Namorados Para Sempre” e “O Lugar Onde Tudo Termina”) estabeleceu renome em Hollywood. Porém, a adaptação cinematográfica do livro de M.L. Steadman, do qual também assume o roteiro, o levou a um patamar dúbio, resultante da demonstração da habilidade técnica nas paisagens que opta filmar em detrimento da narrativa.
Dada a extensão da trama e a escolha do diretor/roteirista em não abandonar pormenores, torna-se palpável a transposição de elementos literários à forma cinematográfica, o que nunca é satisfatório. A história desenrola-se de forma extremamente lenta, um tanto arrastada, o que diminui a força do conflito, uma vez que é imposto.
O longa propõe-se a contar a mudança de um combatente da Primeira Guerra Mundial para Janus, uma afastada ilha, afim de assumir o posto de faroleiro da região. Seu encontro com Isabel (Alicia Vikander) logo torna-se o início de um forte romance, balançado apenas pelos sucessivos abortos espontâneos que a mulher sofre, que a levam a depressão e desespero. Este é interrompido pelo aparecimento de um barco com um bebê abandonado. Isabel urge para Tom (Michael Fassbender) abandonar seu dever e assumir a criança como deles. Anos depois da escolha, a verdadeira mãe da criança, Hannah (Rachel Weisz), aparece e ambos são forçados a lidar moralmente com o que fizeram.
Beirando uma hora de projeção, o embate é incapaz de redimir a falta de envolvimento emocional por parte do espectador. As ações subsequentes são embaladas pelo contraste entre o senso de dever de Tom, reforçado pela sua insígnia de combatente, e o apego de sua mulher. Além de simplista, tal construção narrativa reforça clichês que pouco contribuem para maior força dramática. Como resultado, tem-se um filme plano, oscilante, cujo atrativo principal torna-se a paisagem onde a história se desenrola. Extremamente bem fotografada por Cianfrance, exala beleza e romantismo, mas mostra-se incapaz de redimir os erros narrativos.
Assim, “A Luz Entre os Oceanos” sucumbe diante de suas intenções, relegando-se a um patamar inferior do seu gênero. É o fruto da incapacidade de uma adaptação de uma obra para uma mídia diferente, que necessita de elementos explanatórios mais visuais e concisos que os livros. Em suma, um filme não consegue arrancar as lágrimas preteridas.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 133 min
Nacionalidade: EUA, Grã-Bretanha, Nova Zelândia
Gênero: drama, romance
Elenco: Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz
Diretor: Derek Cianfrance
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