Por Luciana Ramos

 

A ideia de Catherine Johnson de criar um musical com as canções do ABBA foi recebida com descredito pelos próprios integrantes da banda, mas tornou-se uma das peças de maior sucesso da Broadway de 2001. Enxergando o apelo comercial da produção, Rita Wilson, atriz e produtora de origem grega, decidiu transplantar a história para as telonas, também uma maneira de exaltar as belezas naturais e culturais do seu país de origem – algo que já havia feito com “O Casamento Grego”.

“Mamma Mia!” rendeu uma estrondosa bilheteria, empolgando os executivos da Universal para a confecção rápida de uma sequência, seguindo a lógica que impera a produção cinematográfica atual. Porém, um grande impasse os impossibilitou durante muito tempo de ir adiante: Meryl Streep nunca repete o mesmo papel e, por isso, não aceitaria participar da produção (ainda que tenha sido posteriormente convencida a fazer uma ponta). Envolvido no projeto já como diretor, Ol Parker obteve a solução narrativa com a contribuição de Richard Curtis (“Quatro Casamentos e Um Funeral”, “Simplesmente Amor”), que sugeriu moldar o roteiro como “O Poderoso Chefão II”, mesclando tempo presente e um grande flashback que apresenta a origem do personagem principal.

Assim, “Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo!” debruça-se sobre a chegada de Donna (Lily James) à ilha Kalokairi, onde criará sua filha enquanto comanda um hotel à beira-mar. O filme a mostra jovem e cheia de sonhos nos momentos posteriores a sua formatura, onde um mundo de possibilidades à espera. Afim de explorá-lo ao máximo, ela decide fazer uma extensa viagem, primeiro pela França para então embarcar para a Grécia, lugar que conquistará seu coração.

 

 

Este será dividido pela atenção de três rapazes de personalidades muito diferentes: Harry (Hugh Skinner), Bill (Josh Dylan) e Sam (Jeremy Irvine), cada um atraente ao seu modo. As dificuldades que se apresentam no caminho são irrisórias diante da sua vontade de viver – basta observar o aspecto decadente do lugar onde decide dormir – e a somatória dos diferentes momentos, bons e ruins, levam à chegada de Sophie (Amanda Seyfried), a quem devotará sua vida.

No momento presente, sua filha encontra-se determinada a honrar os desejos da mãe e reformar todo o hotel, contando com a habilidade profissional de Sam (Pierce Brosnan) para tanto, além da ajuda do gerente Cienfuegos (Andy Garcia). As “Dínamos” Tanya (Christine Baranski) e Rosie (Julie Walters) aparecem para apoiá-la e, mesmo com outros compromissos agendados, seus outros pais (Stellan Skarsgård e Colin Firth) esforçam-se para estarem presentes na grande reinauguração. Porém, problemas com o tempo acumulam-se com a sua decepção com Sky (Dominic Cooper), com quem não consegue definir um futuro em comum.

Como esperado, acontecimentos são pontuados por grandes sequências musicais, onde os sentimentos de cada personagem fundem-se as letras do ABBA, da divertida “Waterloo” a icônica “Dancing Queen”. Danças irreverentes exploram o grande número de bailarinos e criam os melhores momentos do filme.

 

 

Com transições de tempo extremamente bem-feitas, a trama, de modo geral, fornece o tempo de tela necessário para o desenvolvimento dos arcos de Sophie e Donna, por vezes devotando mais atenção a última por se tratar de um número maior de acontecimentos. Ainda assim, peca pela construção de algumas passagens, apressadas o bastante para parecerem artificiais. O seu envolvimento com Harry é tão rápido e inexpressivo que parece uma desculpa do roteiro justificá-lo como um dos possíveis pais do bebê. O mesmo sentimento é experimentado com a inclusão de Cher que, embora maravilhosa pela presença de tela e, em especial, pela capacidade musical, não tem sua personagem plenamente desenvolvida.

O momento mais gritante, no entanto, diz respeito a uma descoberta que Sophie faz, algo que a leva a repensar seus planos. Essa parte do longa, embora conecte as duas frentes temporais, é trabalhada tão superficialmente que, mais uma vez, parece transparecer a conveniência de uma narrativa que tenta forçosamente criar uma unidade. Por outro lado, esses deslizes são suavizados quando um dueto ao final explora a conexão mais importante da história, desde a sua concepção: o amor entre mãe e filha.

O filme peca na construção narrativa, assim como na elaboração visual: as sequências que utilizam chroma key denunciam o artificialismo da produção e quebram um pouco a imersão na história. Os seus problemas de produção, ainda que amenizem o impacto do produto, não retiram por completo o seu apelo. Alegre, divertido e certamente cafona, “Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo!” é a típica obra escapista que entusiastas do cinema, por vezes, procuram. É o antídoto dos tempos difíceis, uma viagem à ilhas gregas cheias de cores, alegria e música, onde o amor e a amizade ditam as regras da vida. Por isso, sempre terá seu público cativo.

 

Pôster

 

 

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 114 min

Gênero: comédia, musical

Direção: Ol Parker

Elenco: Lily James, Amanda Seyfried, Meryl Streep, Andy Garcia, Pierce Brosnan, Colin Firth

 

Trailer:

 

 

Imagens:

 

 

 

Avaliação do Filme

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