Mansão Mal-Assombrada

Por Luciana Ramos

Ben Matthias (Lakeith Stanfield) é um astrofísico cético o bastante para não acreditar em fantasmas…até conhecer Alyssa (Charity Jordan). Seu encantamento pela mulher, que trabalha como guia de visitas a casas assombradas, o leva a arriscar sua carreira e investir tudo na construção de uma câmera espectral, capaz de identificar cada ser preso entre o mundo dos vivos e dos mortos.

O plano dá errado e, quando sua vida toma uma guinada inesperada, ele se vê sem chão. Ben continua o trabalho da esposa por osmose e usa a bebida como combustível. No seu processo de luto, ele parece ter desaprendido a viver e, por isso, não responde muito bem ao convite do Padre Kent (Owen Wilson) em analisar uma mansão aparentemente cheia de fantasmas.

O seu ceticismo não dura muito tempo, já ele é pessoalmente atacado pelos seres sobrenaturais e acaba se mudando para a mansão comprada pela médica Gabbie (Rosario Dawson) e seu filho, Travis (Chase Dillon). Todos que entram na propriedade são obrigados a lá permanecerem sob pena de serem assombrados publicamente. O confinamento leva Gabbie, Ben e Kent a recrutarem pessoas mais especializadas para a causa: a médium Harriet (Tiffany Haddish) e Bruce Davis (Dany DeVito), professor que lançou um livro sobre imóveis assombrados.

Juntos, eles decidem investigar a dinâmica da casa e descobrem que alguns fantasmas possuem medo de outros, que saem aterrorizando nos corredores. O imbróglio originou-se pela dor de um viúvo, que decidiu dedicar todo o seu tempo e economias para trazer a amada de volta. Para isso, contou com a expertise da Madame Leota (Jamie Lee Curtis), mas as sessões mediúnicas acabaram atraindo o fantasma de um assassino inescrupuloso, chamado de Hat-Box Ghost (Jared Leto), que formulou um plano para ganhar poder e retornar ao mundo dos vivos. Resta-lhe apenas capturar uma alma, e os habitantes da mansão, apavorados, decidem lutar com o que possuem para impedir o desastre. O que não sabem é que a vulnerabilidade de dois deles, acometidos pela dor do luto, torna-os mais vulneráveis ao convencimento de cruzar as linhas da vida e morte.

A jornada de Ben – o sofrimento e luta interna para achar um motivo para continuar – é uma agradável surpresa dentro de uma história, em linhas gerais, previsível. O equilíbrio entre ação e um tom mais emocional fornece alguma profundidade, e o roteiro de Katie Dippold também investe na composição de personagens diferenciados e interessantes. Nessa arquitetura narrativa, faltam dois elementos essenciais para tornar o filme uma boa experiência: o humor e o medo. Conhecido pelo caráter debochado e reflexivo de “Cara Gente Branca”, Justin Simien abandona qualquer chance de realizar algo inovador ou, ao menos, ousado, optando pelo conservadorismo estético.

As composições visuais resumem-se a inverter planos e estender ambientes, criando armadilhas no chão e nas portas para prender os personagens em ambientes inóspitos. Os efeitos, embora competentes até o terceiro ato – quando se perdem com a profusão de fantasmas na tela – não são capazes de transformar o filme no espetáculo que poderia ser.

Esse rigor parece fruto de uma preocupação do diretor em cumprir protocolos, em manter as características centrais da atração original e demarcá-las, uma a uma, em uma sucessão de cameos que não contribuem para o desenvolvimento da história. Embora Wilson, De Vito e Haddish estejam ótimos em seus papeis, eles não são capazes de compensar com seus comentários sarcásticos o tom formal da produção. Do mesmo modo, nota-se uma preocupação exacerbada em controlar os sustos, como se as crianças de hoje em dia não fossem capazes de suportá-los.

Ao final, o longa é competente enquanto escapismo imediato, mas falha terrivelmente em fazer jus à atração original, uma das mais famosas entre os parques da Disney. O mais incômodo é saber que Guillermo Del Toro, com sua expertise no tema e habilidade fílmica, esteve envolvido na produção anteriormente, mas a deixou por não achar que sua visão seria aprovada pela empresa. “Mansão Mal-Assombrada” poderia ter sido infinitamente mais interessante.