Por Luciana Ramos

 

O desgaste natural de comediantes famosos, como Ben Stiller e Adam Sandler, os levou a explorar outros gêneros ou plataformas. Esse movimento ocorreu concomitantemente à decisão dos estúdios em diminuírem consideravelmente a produção de comédias para privilegiar blockbusters e outras produções mais genéricas que seriam, teoricamente, apelativas a uma parcela maior de público.

Dentro desse fenômeno, filmes pequenos comandados por mulheres, como “Madrinhas de Casamento” e “A Espiã que Sabia de Menos”, obtiveram grandes resultados nas bilheterias, levando as produtoras a finalmente compreenderem a demanda por este tipo de produções. Esse pensamento estendeu-se à adaptação de gêneros tipicamente masculinos em narrativas comandadas por mulheres, como é o caso de “Meu Ex é um Espião”.

A trama apresenta Audrey (Mila Kunis) no seu aniversário de trinta anos, onde ela contempla sua vida com tristeza: em um emprego sem futuro e uma tendência a se botar para baixo, ela acaba de ser dispensada pelo namorado através de uma sucinta mensagem. Sua amiga, Morgan (Kate McKinnon), decide que o melhor a ser feito é queimar suas coisas no fogo, o que invariavelmente leva à duas revelações importantes: a de que Drew (Justin Theroux) é um espião e que um valiosíssimo objeto se encontra nas mãos da sua ex-namorada.

 

 

Obviamente, isso chama a atenção de mercenários, agentes do Governo e assassinos profissionais, todos determinados a matar as duas mulheres para conseguir o artefato. Assim, Audrey e Morgan embarcam em uma louca missão para conseguirem entregá-lo em um local seguro sem serem mortas.

Através de uma trama simples, o longa trabalha com elementos conhecidos, como a já citada motivação comum de uma variedade de personagens e uma sucessão de obstáculos e reviravoltas que, por sua vez, conduzem a ação narrativa a diferentes países, explorando ruelas, museus e restaurantes como palcos para encontros sanguinários.

Essa construção é feita a partir da interessante dinâmica da dupla principal, que oferece um olhar cômico à situação por não dominarem a linguagem profissional dos espiões. A seu favor, estão uma dose de sorte, inocência, ousadia e, acima de tudo, a amizade que uma nutre pela outra.

Por baixo do invólucro clássico de um filme de gênero, há a exploração do relacionamento de duas mulheres, que se apoiam e impulsionam. Trabalhadas como “opostos cômicos”, elas se complementam e enxergam o sucesso da missão como um trabalho em conjunto, baseado na confiança.

 

 

A partir da interação das duas com os acontecimentos ao redor, cria-se a tensão, elevada pelas ótimas cenas de ação, muito bem coreografadas, que trabalham quebras de expectativas e a incorporação de elementos cotidianos como ferramentas de humor.

Porém, adentrando-se um pouco mais na narrativa, notam-se alguns problemas. O mais essencial concerne ao ritmo: estabelecido o conflito, o filme aposta em uma sucessão de empecilhos que, embora impulsionem a trama, acabam tornando-se repetitivos, algo revertido pelo incremento das sequências de embate a partir do segundo ato. Ademais, é impossível não notar o tratamento estereotipado de alguns personagens, como Duffer (Hasan Minhaj) e Nadedja (Ivanna Sakhno), a ginasta assassina russa, que incomodam pela superficialidade e falta de graça.

Contudo, tais deslizes não são capazes de esmorecerem o apelo de “Meu Ex é um Espião”, que funciona tanto no âmbito da comédia quanto no da ação, além de oferecer um ótimo retrato da amizade entre duas mulheres. Caso seja um sucesso, a produção ainda irá fortificar o investimento em outros longas centrados em personagens femininas interessantes, que propõem um olhar fresco a gêneros batidos.

 

Pôster

 

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 117 min

Gênero: ação, aventura, comédia

Diretor: Susanna Fogel

Elenco: Mila Kunis, Kate McKinnon, Justin Theroux, Sam Heughan, Dustin Demri-Burns, Hasan Minhaj

 

Trailer:

 

 

Imagens:

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