Por Luciana Ramos

 

“Missão Impossível” foi concebido no longínquo ano de 1996 como um veículo para o astro Tom Cruise que, após sucessivas tentativas frustradas de ser agraciado com um Oscar, decidiu reinventar-se como ator de ação. A adaptação da série homônima dos anos 60 utilizava os elementos típicos de espionagem – como o uso de gadgets e o absurdo das cenas de ação – que eram atraentes pela inventividade. A narrativa, por sua vez, alimentava-se das constantes reviravoltas, permeadas pela incerteza das intenções do protagonista Ethan Hunt, acusado de trair sua equipe.

Mesclando feitos inacreditáveis a tramas intrigantes, a franquia consolidou sua excelência com o envolvimento de J.J. Abrams no projeto, que apostou no aprofundamento do personagem principal como ferramenta de maior identificação dos espectadores. Apresentando Ethan em um ambiente familiar na sua relação com a esposa Julia (Michelle Monaghan), molda-se a característica mais fundamental do protagonista, algo que guiará todas as suas ações em filmes posteriores: a sua devoção aos que ama.

Ao passo que suas missões têm como alvo a proteção de milhões de pessoas, quando confrontado com a ideia de perder alguém próximo, ele não consegue agir racionalmente e, traindo seu treinamento, salva aqueles ao seu redor – o que o faz correr atrás do prejuízo pelo restante dos filmes. É exatamente a partir dessa premissa que “Missão: Impossível – Efeito Fallout” trabalha: durante a missão para recuperar três ogivas de plutônio, Ethan opta por salvar a vida do companheiro Luther (Ving Rhames) e, por isso, põe em risco o futuro do mundo.

 

 

O único modo de recuperá-las das mãos dos Apóstolos, terroristas inflamados que almejam a aniquilação, é interceptar o seu líder, John Lark, de identidade desconhecida. Para isso, é forçado a traçar um plano para libertar Solomon Lane (Sean Harris), criminoso que tentou destruir a sua vida no passado. Apesar dos esforços de Alan Hunley (Alec Baldwin), agora secretário da IMF, a agência é descreditada pela CIA, que toma controle da missão e envia o agente Walker (Henry Cavill e seu controverso bigode) para vigiar de perto os passos de Hunt, Benji (Simon Pegg) e Luther. Não obstante, o grupo se vê novamente diante da determinada Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), que opera por interesses pessoais, nem sempre em concordância com os dos demais.

Christopher McQuarrie, único a assumir o papel de diretor em mais de um filme da franquia, revela-se uma escolha extremamente feliz não só pela multiplicidade de planos com que constrói as sequências de açãoo, elevando sua tensão ao nível máximo. Nas suas mãos, o roteiro de “Missão : Impossível – Efeito Fallout” resgata elementos de todos os filmes da franquia e costura-os, o que resulta em na prazerosa sensação de familiaridade – sem abusar desse instrumento.

Evocando o primeiro longa, ele insere novamente as suspeitas sobre as reais intenções de seu protagonista, questionado pela agência de inteligência norte-americana. Do segundo, retoma a ameaça biológica como ponto de partida para destruição da ordem mundial. De “Missão: Impossível III”, há o foco na humanidade do personagem, na sua interação com as pessoas que ama e as consequências diretas que suas decisões têm sobre elas.

De “Protocolo Fantasma”, há a dinâmica de grupo, determinante para o sucesso das missões, trabalhada com um entrosamento afinado, capaz de inserir toques bem-vindos de humor nas passagens mais tensas. Finalmente, retoma-se a figura de Solomon Lane de “Nação Secreta”, fundamentalista obcecado em destruir Hunt.

 

 

Juntos, esses pequenos fragmentos narrativos moldam-se em um roteiro muito bem construído, que representa sem dúvidas uma elevação do patamar qualitativo da franquia. Esta busca pela evolução constante é o que a diferencia de outros filmes sequenciais: nota-se um trabalho intenso de superação, uma vontade de oferecer ao espectador um certo frescor.

Essa motivação fica ainda mais nítida quando analisadas as cenas de ação, que trabalham com todas as possibilidades possíveis de cenários – de um banheiro ao começo ao clímax em helicópteros, passando por perseguições a pé, de carro e de barco. No centro, há Tom Cruise, comprometido a realizar os stunts sem uso de dublê. Ainda que essa decisão tenha lhe custado a fratura de um tornozelo, ela sem dúvidas potencializa o apelo visual do filme, um misto de apavoramento e completa fascinação pelo que ele está disposto a fazer para dar ao público uma experiência satisfatória no cinema.

As imagens, impressionantes por si só, ganham maior impacto pelo sempre engenhoso uso da trilha sonora, que brinca com os acordes originais de Lalo Schifrin (concebidos para a série), dilatados ou mesclados com batidas mais modernas, sempre presentes nas horas mais emocionantes. Não obstante, cabe destacar a sintonia do elenco principal, íntimo o bastante com seus personagens para trazer naturalidade às passagens mais inusitadas. Somando todos esses elementos, há a completa satisfação das expectativas durante duas horas empolgantes de projeção.

 

Pôster

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 147 min

Gênero: ação, suspense, aventura

Direção: Christopher McQuarrie

Elenco: Tom Cruise, Rebecca Ferguson, Henry Cavill, Simon Pegg, Vanessa Kirby, Ving Rhames, Alec Baldwin

 

Trailer:

 

 

Imagens:

 

 

 

Avaliação do Filme

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