Por Luciana Ramos

Billy “O Grande” Hope (Jake Gyllenhaal) subiu muito na vida: dos orfanatos de Hell’s Kitchen para os ringues de Las Vegas, onde segue invicto como dono do cinturão do peso médio. Possui uma esposa (Rachel McAdams) que o adora e atua como empresária, uma filha (Oona Laurence) esperta e amorosa, um agente (o rapper 50 Cent, se arriscando como ator) que conhece o funcionamento do esporte, bons amigos. É também dono de um estilo de vida invejável, realidade bem diferente da que foi criado.

Após se meter em uma briga e culminar na morte de sua mulher Maureen, Billy demonstra ser incapaz de seguir adiante e toma uma série de decisões erradas que o fazem perder tudo, até a guarda da sua filha.

Taxado como violento pelas autoridades e impedido de ver a menina sem acompanhamento, o lutador decide reerguer-se, revezando-se entre trabalho e treino em uma academia humilde com a ajuda de Tick Wills (Forrest Whitaker).

nocaute 1

“Nocaute” segue a linha de outros filmes do subgênero e inclui certos clichês para aprofundar a luta do protagonista: a redenção pelo esporte, o agente mau caráter, cenas de treinamento com trilha sonora impactante, um treinador pouco ortodoxo mas excelente. Felizmente, mesmo com esses artifícios, não chega a soar como mais um filme de boxe, pelo contrário. O longa exala vigor, paixão e sofrimento genuínos de cada uma das suas cenas, o que o torna estimulante e sensível ao mesmo tempo.

Isso muito se deve pelo modo que o protagonista foi delineado. A maior arma de Billy, aquilo que o faz nocautear sem piedade todos os seus adversários é a raiva que sente nos ringues. Na sua vida pessoal, o mesmo sentimento o torna incontrolável e pouco reflexivo quanto às consequências dos seus atos, fazendo-o arriscar o futuro daqueles que ele mais ama. Assim, voltar ao topo através do boxe é para Billy aprender a controlar os seus instintos e passar a pensar como um lutador.

Todos esses esforços narrativos estariam comprometidos se não fosse a excepcional e minuciosa interpretação de Jake Gyllenhaal. O ator, que brilhou ano passado com o macabro Louis Bloom, protagonista vil e com ares de sociopata de “O abutre”, oferece uma persona completamente diferente no seu novo filme. Como o boxeador Billy, ele apresenta-se extremamente musculoso e usa o seu corpo como instrumento de expressão do personagem, marcado no andar titubeante, característica de alguém que já apanhou muito. O mesmo se segue na fala quase inaudível, contraposta a uma fragilidade no olhar que permeia todo o longa, em especial nas cenas que envolvem a sua filha.

Oona Laurence, que a interpreta, também demonstra um grande talento. Ela mostra um controle emocional acima da média para alguém tão jovem e executa o seu papel com firmeza e qualidade técnica, mesclando sensibilidade e dureza.

O visual do filme também não desaponta. Antoine Fuqua (diretor de “Dia de treinamento” e “O protetor”) alterna de maneira competente planos fechados e abertos em ritmo dinâmico. Essa escolha estética mostra-se especialmente louvável nas cenas de luta. Estas, que ainda incluem passagens em slow motion para aumentar o impacto dramático, são muito realistas e permitem o espectador imergir completamente naquele mundo.

“Nocaute” é um filme de redenção através do boxe e, portanto, um tanto previsível em linhas gerais. Mesmo assim, é capaz de emocionar (e muito) até o espectador mais cético dado o primor técnico e narrativo. Em especial, merece ser visto pelas atuações brilhantes de Gyllenhaal e Lawrence nos papéis de pai e filha.

Ficha técnica Nocaute Poster


Ano:
 2015

Duração: 124 min

Nacionalidade: EUA

Gênero: drama, ação

Elenco: Jake Gyllenhaal, Rachel McAdams, Forrest Whitaker,

Oona Laurence

Diretor: Antoine Fuqua

Trailer:

 

Imagens:

nocaute 6 nocaute 5 nocaute 4 nocaute 3 nocaute 2

Avaliação do Filme

Veja Também:

Rivais

Por Luciana Ramos Aos 31 anos, Art Donaldson (Mike Faist) está no topo: além de ter vencido campeonatos importantes, estampa...

LEIA MAIS

Guerra Civil

Por Luciana Ramos   No fascinante e incômodo “Guerra Civil”, Alex Garland compõe uma distopia bastante palpável, delineada nos extremos...

LEIA MAIS

A Paixão Segundo G.H.

Por Luciana Ramos   Publicado em 1964, “A Paixão Segundo G.H.” foi há muito considerado um livro inadaptável, dado o...

LEIA MAIS