Por Luciana Ramos

 

“O Rei do Show” propõe-se a explorar a curiosa vida de P. T. Barnum, criador de um famoso circo no século XIX que somente fechou no ano passado, através de um musical que represente a magia do espetáculo. Porém, nas mãos do novato Michael Gracey, a obra perde-se em excessiva romantização que o impede de abordar seus temas com maior profundidade.

 

A trama começa com a infância de Barnum (Hugh Jackman), fundamentando seu anseio por ter sucesso e, assim, poder oferecer uma vida boa à amada Charity (Michelle Williams). Em meio a uma crise profissional, percebe uma oportunidade de, através de uma fraude, ganhar dinheiro suficiente para investir em um Museu diferente, que reúna pessoas marginalizadas por características físicas variadas, como anões, mulheres barbadas e pessoas albinas.

 

 

Seu empreendimento, ao mesmo tempo, desperta curiosidade e fúria na cidade, uma prova da intolerância dos demais aos que destoam do padrão. Para ganhar mais respeitabilidade, ele então contrata um produtor de elite (Zac Efron), que se apaixona pela acrobata do grupo (Zendaya), além da cantora de opera Jenny Lind (Rebecca Fergunson), respeitada na mais alta corte de Londres.

 

É exatamente na apresentação dessa subtrama que o filme perde completamente o seu propósito. Pautado na premissa da aceitação às diferenças, exaltada em diversas músicas, como a ótima e grudenta “This Is Me”, a narrativa se contradiz pelo modo com que seu protagonista é delineado. Os personagens adjacentes, por mais de uma vez, exaltam sua coragem e generosidade em lhes conceder uma voz; porém, nenhuma ação mostra P.T. Barnum como algo além de um mercenário, que explora tais pessoas para ficar rico, sem nunca conferir a elas o respeito necessário.

 

 

Isso é amplamente elucidado depois de uma apresentação de Lind, quando ele impede seus funcionários de entrarem na sala de comemoração por pura vergonha. A redenção moral necessária para conferir credibilidade à historia nunca vem: quando sofre adversidades, Barnum é mais de uma vez erguido por aqueles que tratou com descaso e, não obstante, conta com a ajuda final do recurso Deus ex-machina.

 

 

 

Assim, a falha premissa se desfaz diante da promessa não cumprida de exaltação dos performers do circo, que não recebem nem um bom desenvolvimento. Como se não bastasse, o filme ainda sofre com uma estética oscilante, que une passagens bem filmadas, exploradas com ritmo pela boa edição, a outras que são incapazes de esconderem o aspecto artificial do CGI. Já as músicas, chamariz do longa, são excessivamente pop, pontuadas por coreografias modernas que lembram o hip hop, algo bem distante do que um filme de época sobre o espetáculo circense requer.

 

Assim, “O Rei do Show” mostra-se muito frágil para encantar. Sua superficialidade desperdiça a oportunidade de explorar uma fascinante história de vida, além do ótimo elenco que tem em mãos. Incapaz de obter unidade temática e visual, será mais um filme que cairá rapidamente no ostracismo.

 

 

Pôster

 

 

Ficha Técnica

Ano: 2017

Duração: 105 min

Gênero: musical

Diretor: Michael Gracey

Elenco: Hugh Jackman, Zac Efron, Michelle Williams, Zendaya

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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