Por Luciana Ramos
Em 2010, o mundo acompanhou de perto o drama dos 33 mineradores soterrados após o colapso da mina San José, no Deserto do Atacama. Presos na escuridão das montanhas chilenas por 69 dias, eles lutavam para sobreviver com a pouca comida que lhes restava, enquanto profissionais de diferentes países uniam esforços e tecnologia nas inúmeras tentativas de resgate.
A comoção mundial, um misto de fé nos desdobramentos positivos com o reconhecimento da magnitude da natureza em relação ao homem impulsionou o lançamento de um livro sobre o assunto, chamado “Na escuridão”, de Hector Tobar.
A adaptação da obra para o universo audiovisual, cinco anos mais tarde, foca na jornada emocional dos afetados pelo incidente. Propondo-se a abordar os efeitos psicológicos do incidente nos mineradores oriundos da privação sensorial extrema, o longa recorre a enquadramentos bem fechados para acentuar a sensação de claustrofobia.
O embate entre desespero e fé deles é acentuado pela escolha narrativa de retratar o impacto do desabamento nas famílias dessas pessoas. Assim, são intercaladas às cenas das minas panorâmicas amareladas, com areia por todos os lados, onde esposas, filhas e irmãs vibram, choram, desesperam-se e renovam a esperança.
As limitações de espaço de tela que o cinema reserva não permitiriam o aprofundamento na jornada pessoal de cada um dos 33 mineradores. Por conta disso, o filme utiliza-se de personagens pontuais para oferecer diferentes pontos de vista que, somados, oferecem um panorama amplo do conflito. São eles Mario Sepúlveda (Antonio Banderas), o líder dos mineradores; María Segovia (Juliette Binoche), irmã de um dos soterrados; Laurence Golborne (Rodrigo Santoro), recém-empossado Ministro de Minas e Andre Sougarret (Gabriel Byrne), engenheiro-chefe responsável pela missão.
Apesar da boa construção narrativa em termos gerais, que dá vazão a cenas angustiantes e comoventes (muito reforçadas pela veracidade dos fatos mostrados em tela), “Os 33” perde-se em alguns momentos na pieguice.
Querendo emocionar a qualquer custo, como se o engajamento pela sobrevivência daqueles homens não fosse o suficiente, foram incluídas passagens desnecessárias. São pequenos obstáculos previsíveis e forçados que não favorecem em nada a trama, como as recorrentes falhas dos equipamentos e uma passagem onde os mineiros sonham com um banquete enquanto dividem os restos de comida.
Igualmente prejudicial é a extensão do filme, que beira as duas horas e meia, resultando na inevitável fadiga do espectador.
“Os 33” não consegue escapar das armadilhas narrativas na composição de um drama feito para emocionar. Felizmente, a história real que o inspira é tão impressionante que os pequenos deslizes são suplantados pela força da jornada dos 33 homens que se viram diante à inevitabilidade da morte e seus familiares, que optaram pela esperança e fé.
Ano: 2015
Duração: 145 min
Nacionalidade: Chile, EUA
Gênero: biografia, drama
Elenco: Antonio Banderas, Gabriel Byrne, Juliette Binoche, Rodrigo Santoro
Diretor: Patricia Riggen
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