Por Luciana Ramos
Com a aproximação dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos a serem sediados no Rio de Janeiro, surge um filme documental cuja importância transcende o seu aparente tema: expor a carreira de atletas paralímpicos de alta performance. Por meio da exposição das suas dificuldades e consequente transposição de limitações em ambiente de alta pressão, “Paratodos” entrega lições sobre superação, esperança, sucesso, perda e obstinação que são facilmente relacionáveis – e inspiradoras – a qualquer indivíduo.
Dessa abordagem, surge sua capacidade de conexão, explorada em uma teia documental episódica. Separados por equipes (atletismo, canoagem, futebol e natação), o longa relata as rotinas de treino e competições de atletas variados que nunca enxergaram em si as limitações físicas, mas sim a capacidade de se superar a cada momento.
São eles: Alan Fonteles, velocista detentor do recorde dos 100 e 200m; Yohansson do Nascimento, vencedor de quatro medalhas paralímpicas no atletismo; Terezinha Guilhermina, a velocista cega mais rápida do mundo; Fernando Fernandes, tetracampeão mundial de paracanoagem; Fernando “Cowboy” Rufino, detentor de várias moedas na paracanoagem; a seleção brasileira de 5, composta por deficientes visuais; Daniel Dias, maior nadador paralímpico do mundo e Susana Schnarndorf, detentora de doença degenerativa progressiva e vencedora do Mundial de natação do Canadá.
A rotina de cada um, exposta separadamente em sua integridade, revela o caráter obstinado comum a todos e expõe, por meio dos altos e baixo, conquistas e falhas, a capacidade humana de se reerguer e, além disso, de atingir todo o seu potencial. Ao invés de uma abordagem simples e sensacionalista, “Paratodos” aposta na complexidade dos seres humanos para valer seu argumento.
Não obstante, revela-se um retrato dos dilemas dos jogos paraolímpicos, seja na exposição do drama passado por Terezinha Guilhermina, que perdeu uma prova por conta do preparo físico de seu acompanhante ou o de Susana Schnarndorf e Fernando Fernandes que, por motivos diferentes, tiveram que brigar por uma mudança nas regras classificatórias das competições. Por meio da luta de Fernandes em mudar o sistema, aliás, toma-se conhecimento da prática de dopping paralímpico, concernente a atletas que se inscrevem em categorias erradas com o intuito de obter vantagem indevida em relação aos demais.
O rico conteúdo exposto, no entanto, de certa forma dissolve-se com a escolha do diretor Marcelo Mesquita em dividir o filme em episódios. O excessivo didatismo, ainda que contribua para uma rápida identificação do drama de cada um, torna-se cansativo por remeter diversas vezes o espectador ao começo da história, subestimando sua capacidade de absorção. Assim, pode acarretar em momentos de dispersão, o que prejudica a sua experiência como um todo.
A montagem pouco atraente é intensificada pela falta de unidade estética. Por motivos financeiros, foram adotadas câmeras leves em eventos competitivos, em contraponto a sofisticação das filmagens de treinos. O resultado é a concatenação de cenas filmadas por gopros, drones e outras feitas com a câmera na mão, sem apoio estabilizador. O choque do contraste provoca estranhamento em alguns momentos, levantando a questão da necessidade da mistura de tantos recursos estéticos em contraponto à adoção de uma linearidade.
Entretanto, tais problemas não conseguem suprimir a relevância do filme, pautado na riqueza da vida dos seus personagens e nas lições de vida que cada um expõe com bom humor e perseverança. Um filme que merece ser visto por todos, como suscita o seu título.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 120 min
Nacionalidade: Brasil
Gênero: documentário
Diretor: Marcelo Mesquita
Trailer:
https://youtu.be/YszGr85Iv1c
Imagens: