Por Luciana Ramos

A multiplicação de plataformas de consumo de conteúdo audiovisual não só facilitou o acesso a obras mais diversas como também ocasionou uma aceleração de produções voltadas a nichos. Dentre estes, talvez o mais lucrativo seja o infantil – sucessos como “Mundo Bita”, “Galinha Pintadinha” e outras atrações comprovam o apelo que um material educativo e de fácil assimilação, combinado com estética colorida, pode ter.

Neste contexto, insere-se o fenômeno internacional “Patrulha Canina”. Criado por Keith Chapman, a animação canadense apresenta filhotes de diferentes raças como heróis, sempre dispostos a se aventurar para ajudarem os humanos em perigo. Transmitida em 160 países, incluindo o Brasil, ela, em 2018, angariou nada menos que 300 milhões de dólares em receita apenas em produtos licenciados, tendo sido listada pela Amazon como uma das dez marcas mais compradas no último Natal.

Diante de resultados impressionantes, nada mais natural para Chapman e a Spin Master Co. (responsável pela produção) que pensar em expandir ainda mais o seu potencial mercadológico na forma de um longa-metragem. Sem desvencilhar-se da fórmula que a tornou conhecida, “Patrulha Canina: Super Filhotes” apresenta três histórias simples e independentes que exploram a dinâmica do grupo, invocando temas como persistência, união e bondade.

A primeira delas é a mais extensa e aprofundada. Ao avistar um meteoro vindo em direção à Terra, o garoto Ryder convoca Marshall, Chase, Rubbel, Rocky, Everest, Skye e Zuma para protegerem os transeuntes da Baía da Aventura, de modo que ninguém se machuque. Durante a missão, porém, eles sofrem os efeitos da rocha espacial, adquirindo superpoderes. O mesmo acontece com o sobrinho do prefeito da Baía da Névoa, Ronald, que decide usá-los para construir um gigante robô que o dê controle total da região. Com isto em mente, ele captura Ryder, deixando os agora “super” filhotes sem um líder proativo e competente.

Isto deflagra uma crise em Chase, que sente não ser capaz de assumir o posto. Contando com o apoio dos outros, ele testa alternativas que exploram as habilidades adquiridas pelos cãezinhos, demonstrando a importância da persistência na obtenção de um objetivo.

Além de ser a mais longa, esta primeira narrativa também se mostra a mais interessante por unir o carisma já conhecido da Patrulha ao apelo dos contos de origem dos super-heróis, que dominam o panteão cultural moderno. Ademais, ela trabalha bem com as expectativas infantis, construindo obstáculos cada vez maiores que aumentam a tensão na medida certa, sem abrir mão do didatismo necessário para cativação deste público.

Quando solucionada esta confusão, porém, são apresentadas mais duas outras aventuras, mais sucintas, que exploram as habilidades dos personagens que menos aparecem no programa de TV – Zuma, Rocky e Everest – o que, tendo em vista o link entre bilheteria de cinema e venda de produtos adjacentes,  não deixa de ser uma decisão comercial inteligente.

Para unir as historinhas, foram convocados dois apresentadores mirins da Nickelodeon, Lorena e Pedro, que conversam com os espectadores, fazem quizzes e estimulam-nos a cantarem a música-tema da “Patrulha Canina” (que é acompanhada de legendas guiadas). Este modelo afasta “Patrulha Canina: Super Filhotes” de ser propriamente um filme, aproximando-o de uma atração infantil comum aos canais de televisão, tendo sido apenas transmutado para uma tela maior.

Ainda que se sinta falta de maior robustez narrativa ou coesão temática entre as histórias, a escolha deste modelo se justifica pelas características do público-alvo da animação canadense, basicamente composto por crianças na primeira infância, que, ainda sem grande capacidade de concentração, respondem melhor a aventuras mais curtas e objetivas. Eles, com certeza, adorarão ver “Patrulha Canina” em uma telona de cinema.

Ficha Tecnica

Ano: 2019

Duração: 90 min

Gênero: Animação

Direção: Charles E. Bastien

Elenco: Devan Cohen, Drew Davis (III), Samuel Faraci

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