Por Murillo Trevisan

 

O cinema constitui-se em um dos diversos modos de expressão cultural da sociedade contemporânea. A relação entre a sétima arte e a educação, seja no contexto do ensino escolar ou de um modo informal, é parte da sua história. Desde os primórdios, diretores, produtores e realizadores em geral consideravam-no como uma poderosa ferramenta para instrução, educação e reflexão humana.

As mentes mais propícias à aceitação de uma nova mensagem, embora não haja vivência para uma reflexão mais ampla, são as das crianças. Não à toa que grandes estúdios estão apostando em criar vertentes dedicadas à animação. Cabe esclarecer que essa técnica (animação é técnica e não gênero) não é exclusiva para o público juvenil, mas sim tem um maior apelo à eles devido aos aspectos estéticos.

Esse é o caso da Warner Animation Group (WAG), que depois de nos presentear com “Uma Aventura LEGO”, “Cegonhas” e “LEGO Batman”, nos fornece a percepção de um mundo através do olhar de criaturas míticas, os Ietis (popularmente conhecido como Pé Grande).

 

 

Em “PéPequeno”, acompanhamos a jornada de Migo (Channing Tatum), um jovem e genial Ieti, que sonha em suceder ao pai (Danny DeVito) no posto de tocador do gongo, despertando todas as manhãs a tribo dos Yetis, que acreditam que o badalar traz a luz do gigantesco caramujo cintilante, o sol. Ao cometer sua primeira falha, ele calcula mal a rota e acaba indo além dos limites das montanhas, se deparando com algo que ele achava até então ser apenas um mito – um humano.

O problema é que a sociedade onde vive acredita cegamente nas histórias que lhe são contadas através de desenhos deixados em pedras, lidas por uma espécie de guru sacerdote, o Guardião das Pedras. Migo então terá de arranjar uma maneira de provar à sua comunidade a existência de tal criatura.

Escrito e dirigido por Karey Kirkpatrick, de “A Fuga das Galinhas” e responsável pela adaptação de “O Guia do Mochileiro das Galáxias” para os cinemas, o roteiro traz uma estrutura padrão para as animações infanto-juvenis: o arquétipo do herói em busca de aprovação acompanhado por por um grupo peculiar de amigos. Porém, ela difere na mensagem transmitida, que pincela a traços finos uma questão filosófica, como a já popular “alegoria da caverna” idealizada por Platão, em meio a uma fábula de amizade entre duas espécies distintas; um Pé Grande e um homem.

O humano em questão é Percy Patterson (James Corden), um jornalista de televisão especializado em matérias sensacionalistas sobre o mundo animal. A aparição de um “Abominável Homem das Neves”, mesmo que forjada, representaria uma oportunidade única para que seus vídeos viralizem e, assim, para que ele se tornasse uma celebridade de fama internacional. A questão ética de usar uma pequena mentira para ganho pessoal faz paralelo às grandes farsas seculares contadas ao povo Ieti, com intuito de protegê-los do mal exterior.

A relação de Migo e Percy de início é vista como “criatura e presa”, devido ao desentendimento da língua e a não assimilação com aquele que é diferente, mas logo torna-se compreensível quando usada a linguagem visual por meio gestos, ainda que causem certa confusão de interpretação (assim como os desenhos deixados nas “sábias pedras”).

 

 

A composição audiovisual projetada é simples, mas competente. Não há uma construção detalhada das figuras tornando-as aquém da capacidade tecnológica atual, porém não afeta na construção dos personagens. A cores gélidas puxam para um tom de azul celeste, tendo como finalidade apenas gerar uma sensação térmica, mas que alteram para tons mais sombrios à medida que o protagonista desvenda os fatos.

A trilha sonora apoia-se em paródias de músicas já conhecidas do espectador, utilizando seus ritmos para narrar eventos da trama, como nas tradicionais animações musicais da Disney. O problema é que, apesar de uma boa adaptação das canções, as letras acabam sendo um pouco complexas para o público do qual ela pretende atingir.

Por fim, o filme consegue atingir o patamar de qualidade das recentes animações. Deixa um pouco a desejar na condição de humor, porém traz um pensamento social e filosófico, deixando clara a mensagem de sempre questionar os fatos, argumento importantíssimo nos tempos atuais. “PéPequeno” é um filme família para todas as idades: as crianças vão se divertir e os adultos refletir.

 

Pôster

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 96 min

Gênero: animação, aventura, comédia

Direção: Karey Kirkpatrick, Jason Reisig

Elenco: Channing Tatum, James Corden, Zendaya, Common, LeBron James, Danny DeVito

 

Trailer:

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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