Por Luciana Ramos
“Procurando Nemo” fez enorme sucesso ao ser lançado e continua a ser uma das animações mais queridas da Pixar por descrever a jornada de um pai em busca do filho perdido. Desvencilhando-se de uma abordagem simplista, inseriu camadas de identificação por explorar a importância universal da família.
Tardios treze anos depois, “Procurando Dory” refaz o caminho de forma inversa – dessa vez a filha procura os pais – mas a moral da história continua a mesma, com pequenas adições: o traço característico da peixinha azul, sua perda de memórias recentes, serve como elemento de exploração de questões como tolerância, aceitação e solidão.
Em uma das primeiras cenas do filme, há uma sequência de flashback onde Dory (voz de Ellen DeGeneres) relembra que se perdeu dos seus pais quando criança. É nesse ponto que ela descobre ter uma família, fato que a sua condição traiçoeiramente ocultou por todos esses anos. Completamente sozinha, a pequena peixinha sente medo e angústia frente a vastidão do mar e seus perigos escondidos até encontrar o peixe-palhaço Marlim (voz de Albert Brooks).
A solidão é um dos sentimentos que pode ser experimentado pelo público, seja ele adulto ou infantil, ao longo da jornada, dada a sua universalidade. Já o recurso do flashback é interessante pois serve tanto como recurso para avançar a trama como para fornecer densidade psicológica à protagonista.
Um dos trunfos deste roteiro é a capacidade de Andrew Stanton e Victoria Strouse em explorarem a condição de Dory como plenamente aceitável e, em determinados momentos, vantajosa. Ela amada como é por aqueles que a cercam. Não obstante, seus amigos encontrados pelo caminho, como uma baleia (voz de Kaitlin Olson) que não enxerga direito e uma beluga (voz de Ty Burrell) cujo sensor é deficiente, reforçam a ideia de aceitação das diferenças, provando que a perfeição não tem espaço nessa animação e os personagens mais interessantes são aqueles dotados de falhas.
A inserção desses animais também denota a necessidade do filme em informar as características peculiares à cada espécie. Em uma animação regida por leis biológicas, cada animal possui um papel fundamental no avanço do objetivo da protagonista, sendo a habilidade do polvo em sobreviver fora d’água uma ferramenta essencial no processo.
Nesse sentido, foi muito feliz a mudança do cenário do filme do mar para um ambiente mais controlado, onde as dificuldades acentuam-se para seres não adequados. Além de provocar um afastamento bem-vindo do primeiro filme, provoca soluções criativas aos problemas oferecidos.
Porém, a inserção de novos elementos narrativos e imagéticos não são suficientes para transformar “Procurando Dory” em um produto amplamente diferenciado do seu antecessor, visto a similaridade da estrutura do roteiro. O universo não é de forma alguma expandido e, portanto, o espectador apenas consegue apreciá-lo no campo da familiaridade.
Dessa forma, o novo filme da Pixar não consegue equiparar-se à grandeza emocional de “Procurando Nemo” mas, ainda assim, revela-se inteligente, bem-humorado e denso no tratamento de suas questões principais. Com isso, oferece ao público mais uma vez a oportunidade de experimentar uma gama ampla de emoções, como todo filme bom é capaz.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 97 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: animação
Elenco: Ellen DeGeneres, Albert Brooks, Ed O’Neill
Diretor: Andrew Stanton, Angus MacLane
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