Por Murillo Trevisan

Dono de uma premiada carreira, o ganhador de três estatuetas do Oscar (duas como diretor em “O Segredo de Brokeback Mountain” e “As Aventuras de Pi”, e uma com “O Tigre e o Dragão” como melhor filme estrangeiro) Ang Lee é conhecido como um dos cineastas mais inventivos de Hollywood. Assim como James Cameron (“Avatar”), o diretor taiwanês abriu mão da tradicionalidade e se aventurou em buscar novas tecnologias com o propósito de renovar a forma de consumir cinema.

Esse anseio teve início em 2012, quando lançou seu primeiro filme 100% digital com “As Aventuras de Pi”, que no ano seguinte seria contemplado com quatro prêmios da academia. Além disso, o sucesso foi estrondoso, o filme explodiu beirando os US$ 610 milhões de bilheteria. Em 2016 com “A Longa Caminhada de Billy Lynn”, inspirado no livro homônimo de Ben Fountain – finalista do National Book Awards em 2012 – o passo foi maior. Com ele, Lee lançou o primeiro drama filmado em 3D com resolução digital 4K e versão original de 120 quadros por segundo — ou seja, cinco vezes mais rápido do que o padrão das últimas nove décadas.

Porém, ao contrário de seu último projeto, o longa foi um tremendo fracasso. Orçado em mais de US$ 40 milhões, ele teve um dos piores desempenhos para produções lançadas em mais de mil salas nos EUA, não ultrapassando a marca de US$ 1,8 milhões desde a estreia comercial em outubro do mesmo ano. No Brasil, a própria Sony desistiu de lançar o filme nos cinemas, trazendo ele diretamente para home vídeo, impossibilitando assim de termos a experiência inicialmente proposta.

Agora, ao lado do produtor Jerry Bruckheimer (“Piratas do Caribe”) e David Ellison (“Missão: Impossível – Efeito Fallout”) da Skydance, Lee tem a oportunidade de desenvolver melhor o uso dessa tecnologia apresentando novos recursos. Aqui, além da utilização de captura na mais alta resolução e taxa de quadros por segundo (120fps, convertidos para exibição em 60fps), também há a introdução de novas técnicas de rejuvenescimento.

Na trama, Will Smith (“Bright”) é Henry Brogan, um assassino de elite que, após eliminar seu último alvo antes da aposentadoria, começa a ser perseguido por um misterioso agente que aparentemente pode prever cada movimento seu. O que ele não contava, era que o executor seria uma versão mais jovem de si mesmo, fruto do ominoso “Projeto Gemini”, encabeçado pelo “vilão” Clay Verris (Clive Owen). A nova técnica – e chamariz do filme – é de fato impressionante nas cenas noturnas, como se estivessemos de frente com aquele mesmo jovem Will de “Um Maluco no Pedaço”. Porém quando apresentado em ambientes claros, fica evidente que se trata de um personagem digital.

Em um longa tradicional, onde os 24 quadros pintam a tela com o famoso blur, esse problema seria praticamente imperceptível, mas quando se mais do que dobra a quantidade deles, toda a movimentação digitalmente aperfeiçoada se torna mais dura e inverídica, apesar do ultra realismo que ela tenta representar. Independente das notáveis falhas, a exibição nesse alto frame rate te ajuda a imergir no filme, tornando o longa uma experiência única, ainda mais quando se trata das cenas de ação.

A tecnologia é tão chamativa, fazendo prestar atenção em cada detalhe e movimentação, que acaba deixando a trama do filme totalmente desinteressante, te fazendo não dar a mínima importância do que está acontecendo na vida daqueles personagens. Ang Lee se focou tanto em deixar tudo visualmente incrível, que acabou se esquecendo que a direção de elenco também é essencial para se contar uma boa história. Nem os carismáticos Will Smith e Mary Elizabeth Winstead (“Rua Cloverfield, 10”) são capazes de convocar a concentração do espectador na insossa trama.

Em “Projeto Gemini”, Ang lee transforma a sala de cinema num verdadeiro parque de diversões. O entretenimento e a experiência de vivenciar essa nova tecnologia vale o ingresso, porém passa longe de ser um bom filme. Esse espetáculo durará apenas enquanto o longa estiver em cartaz, sendo fadado ao esquecimento, assim como “Billy Lynn”.

Ficha Técnica

Ano: 2019

Duração: 117 min

Gênero: Ação, Drama, Sci-fi

Diretor: Ang Lee

Elenco: Mary Elizabeth Winstead, Will Smith, Clive Owen, Douglas Hodge, Theodora Miranne, Benedict Wong

Avaliação do Filme

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