Diante da alteração de regras anunciadas por Thierry Frèmaux, o Festival de Cannes começou com uma polêmica: a impossibilidade da Netflix de exibir seus filmes na competição. Como retaliação, a empresa americana decidiu retirar-se totalmente do festival, o que acarretou na falta de “The Other Side of the Wind”, última obra de Orson Welles, remasterizada pela plataforma e que seria devidamente exibida e homenageada na Croisette. Daí, surgiram dúvidas sobre o potencial dessa edição do festival, algo substanciado pelos embates judiciais que cercaram a versão cinematográfica de “Dom Quixote”, de Terry Gilliam – que, ao final, conseguiu ser exibido.
A repercussão nos ambientes externos de Cannes, no entanto, não acarretou na diminuição do fervor em torno de alguns filmes, como “Capernaum” (Líbano) e “Blackkksman” (EUA), que detinham a preferência até a revelação do prêmio principal. A Palma de Ouro, no entanto, foi para o japonês “Shoplifters”, misto de drama e comédia sobre uma família de trambiqueiros que, por interesse, adota uma menina.
A cerimônia de premiação, comandada pela presidente do júri, Cate Blanchett, ressaltou a importância do movimento #metoo com o depoimento da cineasta italiana Asia Argento que, no palco, lembrou ter sido estuprada por Harvey Weinstein em uma edição passada do Festival, o qual classificou como “área de caça” do empresário. A sua fala ecoou uma mobilização não familiar à Cannes, integrada ainda por uma marcha feita por 84 mulheres para chamar atenção para a disparidade de oportunidades na indústria, seguida de uma outra, comandada por artistas afrodescendentes, que reivindicavam mais visibilidade no cinema.
Assim, ao longo de 15 agitados dias, o Festival de Cannes conseguiu inserir-se melhor nos debates que rondam o mercado audiovisual e, dessa forma, mostrar-se relevante.
Confira a lista de vencedores:
Palma de Ouro: “Shoplifters”
Grand Prix: “Blackkksman”
Prêmio do Júri: “Capernaum”
Palma de Ouro especial: “Le Livre d’Image”
Melhor Documentário: “Samouni Road”, de Stefano Savona
Melhor Diretor: Pawel Pawlikowski por “Cold War”
Melhor Ator: Marcello Fonte por “Dogman”
Melhor Atriz: Samal Yeslyamova por “Ayka”
Melhor Roteiro: empate entre Alice Rohrwacher por “Happy as Lazzaro” e Jafas Panahi & Nader Saeivar por “3 Faces”
Camera d’Or (filme de estreia): Lukas Dhont por “Girl”
Curta-metragem: “All These Creatures”, com menção honrosa para “On the Border”
Prêmio da crítica: “Burning”, de Lee Chang-Dong
Prêmio do Júri Ecumênico: “Capernaum” com menção honrosa para “Blackkksman”
Dois filmes brasileiros foram agraciados anteriormente na Semana da Crítica, confira clicando aqui.