Por Luciana Ramos

 

Mario (voz de Raphael Rossatto) e Luigi (voz de Manolo Rey) são irmãos e sócios em uma empresa de encanamento no Brooklyn, onde tentam construir uma clientela enquanto lidam com críticas dos pais. Transitando entre a animação e a incerteza do sucesso, eles se valem de uma premissa básica para aguentar os dias: enquanto estiverem juntos, nada de ruim pode acontecer. Um dia, ao explorarem o mágico sistema de esgoto da cidade, são sugados por um cano verde, que os conduz a duas realidades distintas: Luigi vai parar no Reino das Sombras, coordenado por Bowser (voz de Márcio Dondi) e seu exército de súditos; já Mario, cai em um lugar colorido, o Reino dos Cogumelos, onde pede a ajuda da Princesa Peach (voz de Carina Eiras) para achar o irmão.

Embora a sua falta de habilidades seja nítida – explorada em uma divertidíssima sequência de treinamento – a princesa guerreira decide unir forças por também suspeitar que suas terras serão as próximas a serem invadidas. A sobrevivência de todos em um ambiente harmônico, dominado pela luz, é, portanto, essencial. Então, eles partem em uma jornada rumo a mundos desconhecidos para Mario, onde balas de canhão voam pelos ares, cogumelos mágicos afetam o seu tamanho e peixinhos insistem em grudar na sua cara.

No caminho, juntam-se a eles Toad (Eduardo Drummond), movido por seu senso de aventura, e a família Kong que, mesmo relutantemente, dispõe seus trunfos de guerra a serviço de um bem maior. Paralelo aos acontecimentos, a trama destila com muito humor a motivação de Bowser, mostrando-o em toda a sua capacidade patética. Para isso, vale-se inclusive de cenas musicais hilárias, uma ferramenta comum a filmes infantis, mas que ganha mais tração nesse caso devido ao estilo cômico de Jack Black, que dubla a voz original do vilão.

Na primeira camada, “Super Mario Bros – O Filme”, dirigido por Aaron Hovarth e Michael Jelenic, cumpre os requisitos essenciais para uma boa diversão em família: há piadas existencialistas que provocam o sentido do que está sendo mostrado; o invólucro colorido é um deleite paras as crianças e, acima de tudo, ambas as faixas etárias são convidadas a aproveitarem as inúmeras referências da franquia.

Uma das melhores sacadas é colocar Mario como um elemento estranho nesse universo e, assim, fazê-lo passar por todas as etapas de conhecimento que um jogador novato é obrigado a cumprir. Há um senso de recompensa que é transposto para as telas ao ver novas habilidades sendo adquiridas ou (destituídas) ao se ingerir um cogumelo, entrar em contato com uma flor em chamas ou derrapar com uma banana no chão.

Esses pequenos surtos de alegria são embalados com um ar nostálgico que permeia essa e tantas produções autorreferenciais. Os momentos de uso da trilha sonora são enaltecidos com algum obstáculo aparentemente intransponíveis; já as músicas, variam entre “I Need a Hero” e “Take on Me” – não se pode ficar mais anos 80 que isso…a menos que o console original da Nintendo apareça despretensiosamente nas mãos do Mario.

A preocupação em entregar uma obra de qualidade é, em grande parte, carregada pela Nintendo, empresa que possui uma fama de “ser chata”. O nível de exigência imposto foi empecilho em inúmeros projetos de adaptação, mas esta recente parceria com a Illumination (de “Minions” e “Meu Malvado Favorito”) dá muito certo por potencializar as duas visões em um filme muito bem construído, com ritmo acelerado, mas consistente e engajador.

É notável o nível de detalhes em cada enquadramento, que preenche a tela com uma profusão de pequenos easter eggs dos jogos e brinca com as possibilidades de cenários para aventuras. É realmente uma obra que sabe da riqueza que tem em mãos e não se preocupa em investimentos futuros – embora haja muito espaço para isso – dispondo nas cenas todos os seus principais trunfos. A fotografia é igualmente interessante, pois reproduz o universo colorido de Mario Bros. contrastando-o com um mundo de sombras e bolas de fogo escaldantes que traça o caráter maniqueísta do conflito.

Quando esses começam a se confundir, o Reino dos Cogumelos perde um pouco de sua saturação, em demonstração ao perigo iminente. É um trabalho, sutil, mas muito eficaz. Ao centro, estão personagens muito bem delineados: cada motivação, backstory e conjunto de habilidades é descrito de maneira dinâmica, potencializado por piadas que quebram as expectativas apresentadas.

Em uma obra tão divertida, a cereja do bolo vem do uso dos efeitos sonoros do jogo na trama – espaçado o bastante para não cansar, mas que capitaneia assertivamente a nostalgia do adulto na sala de cinema. Esse sim é um longa que foi bolado como uma experiência, então quanto maior a sala, melhor. Na verdade, “Super Mario Bros. – O Filme” é tão bem-feito que fica difícil imaginar que o filme não se torne a referência quando o assunto for a adaptação de games para a sétima arte.  

Ficha Técnica

Ano: 2023

Duração: 1h 32 min

Gênero: aventura, comédia, família, fantasia

Direção: Aaron Hovarth e Michael Jelenic

Elenco original: Chris Pratt, Jack Black, Charlie Day, Keegan-Michael Key, Anya Taylor-Joy, Fred Armisen, Seth Rogen

Elenco brasileiro: Eduardo Drummond, Carina Eiras, Manolo Rey, Márcio Dondi, Raphael Rossatto, Rodrigo Oliveira

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