por Lanna Marcondes
Passaram-se 22 anos desde o início da jornada de Lara Croft no mundo dos video games, em 1996. Até sua versão mais recente, em 2013, houveram quinze novas aventuras desenvolvidas e duas adaptações cinematográficas, protagonizadas por Angelina Jolie. Tomb Raider retorna aos cinemas com uma nova perspectiva e um roteiro baseado na última atualização.
Voltamos às origens de Lara, interpretada por Alicia Vikander, ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2016. Ela tem em mãos uma personagem mais inocente de início. Acompanhamos sua evolução, do distanciamento e certa ignorância sobre os projetos da família até ir atrás da verdade sobre seu pai, desaparecido há sete anos, e entrar em uma inesperada e perigosa aventura arqueológica.
As origens da heroína não são desconhecidas de seu público alvo: a herdeira de uma fortuna imensurável cujo pai historiador e arqueólogo desaparece, lançando-a assim em sua própria jornada de descoberta e mistério. Essa temática é constantemente revisitada tanto nos jogos quanto no cinema, o que confere ao enredo de “Tomb Raider: A Origem” um ar previsível, que proporciona pouca adrenalina ao espectador.
As diferenças estão nos detalhes, pois no início do novo filme a protagonista se recusa a herdar a fortuna do pai, não admitindo sua morte, vivendo dos ganhos de entregar comida em uma bicicleta por Londres. Um ritmo lento e um tanto clichê acaba criando uma primeira impressão ruim para o longa, demorando a encontrar sua própria forma no roteiro e na edição.
A obra em si tenta se manter fiel ao reboot da franquia, contendo pontos fundamentais do enredo e reproduzindo diversas cenas, como o momento em que Lara encontra o escritório secreto do pai, a cena do barco sendo destruído em uma tempestade no mar, na floresta da ilha e nos destroços de um avião enferrujado. No entanto, existem falhas: o uso do arco e flecha, por exemplo, parece mais um artigo decorativo, e a maioria das personagens do game sequer é mencionada no roteiro cinematográfico.
Durante toda a produção, o único ponto que se evidencia claramente é a representação de Vikander como Croft. Ela consegue entregar um carisma e um visível crescimento no caráter de Lara. Apesar do roteiro não favorecer interações entre personagens, contendo diálogos mal trabalhados e sem graça, consegue conceder-lhe humanidade: ela é uma mulher forte, física e mentalmente, mas não o tempo todo; sente dor, medo, tristeza. Não consegue combater seus inimigos com tanta facilidade assim, se esforçando para sobreviver. Em contraponto, Mathias Vogel (Walton Goggins), o vilão do filme que trabalha para Trinity, e o próprio Richard Croft (Dominic West), deixam a desejar, pois o roteiro não consegue construí-los de forma aprofundada. Boas performances são desperdiçadas nas motivações cegas das personagens.
A cena do barco sendo destruído perto da costa de Yamatai durante uma tempestade é uma das melhores do filme. A forma como foi dirigido entrega visualmente o próprio desespero da situação. Um ponto a se destacar é o uso narrativo do desenho sonoro, construindo o estado mental dos personagens com abafamentos e distorções.
Lara Croft carrega em si muito da representatividade da mulher na cultura pop, principalmente no segmento de ação e aventura, tanto em filmes quanto nos jogos. Sua personalidade forte e corajosa, protagonizando sua própria aventura, coloca a mulher no centro e mantém um discurso sobre empoderamento. No entanto, a construção narrativa pobre desse filme em particular deixa muito a desejar, tornando tudo muito genérico e superficial.
Em uma época em que vimos obras como “Mulher Maravilha” terem desenvolvimento e mensagem consistentes, é até triste ver o quanto poderia ser aproveitado do enredo de “Tomb Raider: A Origem” se fosse abordado de forma diferente. Podemos só esperar que daqui em diante projetos com protagonistas femininas em filmes de alto orçamento sejam repensados e melhor construídos. Afinal, nem tudo é computação gráfica. A cada dia que passa, a demanda do público exige tanto tecnologia quanto histórias surpreendentes e bem trabalhadas.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 118 min.
Gênero: ação, aventura, games
Diretor: Roar Uthaug
Elenco: Alicia Vikander, Dominic West, Walton Goggins, Daniel Wu
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