Por Luciana Ramos

Joaninha (Brad Pitt) está convencido da sua má sorte, mas não atribui tudo o que deu errado em suas recentes missões ao fato de ser um assassino profissional. Convencido que existe alguma força superior que o amaldiçoou e afastado do trabalho por um tipo peculiar de burnout, ele é convencido por sua chefe, Maria (Sandra Bullock), a aceitar mais um trabalho: entrar em um trem no Japão, pegar uma maleta – facilmente identificável com um adesivo – e sair. Parece incrivelmente simples, mas ele é obrigado a lidar com inúmeros obstáculos entre os vagões.

Para começar, há a dupla Limão (Brian Tyree Henry) e Tangerina (Aaron Taylor-Johnson), contratada para resgatar o filho de um criminoso chamado Morte Branca (Michael Shannon) de um sequestro. A maleta que está em posse deles contêm o dinheiro do resgate, mas não só eles a perdem como descobrem que o garoto foi morto em circunstâncias misteriosas. Sentado em outro vagão está Kimura (Andrew Koji), familiar de um integrante da Yakuza que teve o filho empurrado de um telhado. Um bilhete o informava que o mandante do crime estaria a bordo, mas, ao chegar lá, ele descobre que este é ninguém menos que O Príncipe (Joey King), uma jovem adolescente que o usa para buscar vingança.

Esta é também a motivação do Lobo (Bad Bunny), o criminoso de um cartel que teve o dia do seu casamento destruído e procura o mandante do assassinato da noiva. Para completar, há uma especialista em víboras (Zazie Beetz) disfarçada em busca da maleta. Não à toa, os interesses desses personagens altamente periculosos coincidem, levando-os a duelarem por suas vidas.

A concisão do ambiente serve para aumentar a tensão, potencializada por desdobramentos inesperados. Paulatinamente, são apresentadas as peças do quebra-cabeça, entrelaçando a narrativa com um tecido narrativo simples, porém eficaz. O longa é, acima de tudo, imensamente divertido. As eventuais falhas do roteiro são dirimidas pelo ótimo trabalho de David Leitch (“Deadpool 2”) na direção, que dita um benéfico senso de urgência à produção.

Os comentários irônicos sobre sorte e destino são responsáveis pelo tom cômico predominante, contraposto a sequências de ação muito bem executadas. Além de rápidas e cheias de cortes, as coreografias de luta são interessantes por explorarem os recursos disponíveis nos ambientes (como bichos de pelúcia, garrafas, celulares), livrando o filme de confrontos clichês. Já as personagens são contextualizadas através de flashbacks sucintos, unidos em montagem tarantinesca. Referências, inclusive não faltam, de Pulp Fiction a John Wick. Embora pouco autoral, a narrativa serve a promessa de entretenimento descompromissado, dispondo do carisma do elenco, em especial de Brad Pitt, para fazê-lo. Este parece genuinamente feliz de participar do longa e demonstra talento ao pontuar as passagens cômicas com precisão.

Baseado no livro de 2010 escrito por Kotaro Isaka, “Trem-Bala” revela-se inteligente por entender seu potencial. O roteiro de Zak Olkewicz privilegia pontuar as diferenças entre os personagens para então confrontá-los em um ambiente hostil e de ritmo alucinante, sem se levar a sério demais.

Ficha Técnica

Ano: 2022

Duração: 2h 6 min

Gênero: ação, suspense, comédia

Direção: David Leitch

Elenco: Brad Pitt, Joey King, Aaron Taylor-Johnson, Brian Tyree Henry, Andrew Koji, Michael Shannon, Sandra Bullock, Bad Bunny

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