Por Luciana Ramos

 

“Trumbo: Lista Negra” acompanha as implicações profissionais e pessoais da instituição de uma caça às bruxas em Hollywood contra os afiliados no Partido Comunista ao final dos anos 40. Na figura do prolífico e talentoso Dalton Trumbo (Bryan Cranston) e da engenhosidade com que conseguiu driblar o sistema, não deixa de constituir uma crítica a esse período vergonhoso da indústria.

Dotado de extremo talento, o roteirista era capaz de escrever rapidamente das histórias banais aos dramas mais sofisticados, transitando entre os padrões narrativos e gêneros com imensa naturalidade. Porém, a intensificação do clima de paranoia anticomunista iria mudar o seu destino e de muitos outros em Hollywood.

Fruto da propaganda americana ansiosa em obter a validação da sua população na empreitada bélica da Guerra Fria, o Comitê de Atividades Antiamericanas instaurou-se com o intuito de expor os membros afiliados do Partido Comunista. Aliado a ele, nasceu a Aliança do Cinema para Preservação dos Ideias Americanos, liderada por figuras como o ator John Wayne (David James Elliot) e a colunista de fofocas Hedda Hopper (Helen Mirren) em favor da condenação moral desses indivíduos.

Neste contexto encaixa-se Trumbo, intimado a responder perante o Congresso quanto as suas predileções políticas. A sua negação o levou a prisão e posteriormente a inclusão em uma lista, composta dos nomes dos profissionais da indústria que não mais poderiam trabalhar.

Por necessidades financeiras e criativas, ele decide instalar em Hollywood um mercado negro: trabalhando sob pseudônimos, burlava as proibições e mostrou-se mais produtivo que nunca.

 

trumbo 1

Baseada na biografia do roteirista escrita por Bruce Cook, o roteiro de John McNamara acerta ao focar nos eventos principais do período mais notório e controverso do biografado. Por meio dos diálogos, apresenta o caráter do seu personagem, tornando os seus posicionamentos em momentos cruciais concordantes com o senso de justiça que o acompanha.

Assim, revela-se um filme bom, que explora argumentos contrários e expõe a complexidade do problema central da lista negra: coibir os indivíduos por seus pensamentos e, acima de tudo, proibi-los de usar aquilo que lhes é mais valioso, os seus nomes.

O longa pauta-se bastante na atuação de Bryan Cranston que, por sua vez, oferece uma interpretação irretocável na pele do protagonista. Com o seu ar incisivo e ao mesmo tempo irônico, utiliza todo o seu corpo para revelar o radicalismo de suas convicções, além da necessidade criativa de produzir e senso de responsabilidade para com sua família. Além disso, o ator, reconhecido pela série de televisão “Breaking Bad”, afasta-se completamente de antigos maneirismos para oferecer novos contornos ao seu melhor papel no cinema.

 

Ao seu lado, estão a ótima Helen Mirren na pele da venenosa e igualmente radical Hedda Hopper, John Goodman, que oferece uma interpretação notável como o produtor de filmes B Frank King, Louis C.K. ótimo como o escritor Allen Hird e Diane Lane, consistente como Cleo, esposa de Dalton. Como elo fraco tem-se Elle Fanning, que derrapa em pausas dramáticas acentuadas e expressões pouco naturais como Nikola, filha mais velha do casal principal.

De modo geral, a direção de Jay Roach é consistente, podendo ser destacada a competência com que aliou imagens de arquivo à reconstituições perfeitas dos eventos principais. No entanto, peca por valer-se de artifícios visuais pouco inspirados em algumas cenas, como o uso fusão de imagens de Trumbo sentado em frente a máquina de escrever e seus prêmios.

 

Ainda que atraente, o roteiro de “Trumbo: Lista Negra” possui algumas inconsistências que o fragilizam. Primeiramente, há o excessivo maniqueísmo na composição de seus personagens. Além disso, é dada pouca atenção a algumas passagens dramaticamente importantes, como o uso de comprimidos para conseguir trabalhar por parte do roteirista, em favor de outras, menos impactantes.

Assim, fica a sensação de o que separa este longa –muito bom- da excelência são a sagacidade e talento de alguém como Dalton Trumbo, que sabia entregar ao público tudo que deseja com extrema qualidade narrativa. Contudo, mesmo com problemas, não deixa de ser contundente na elucidação de um período macabro de Hollywood.

Dica: fique um pouco durante os créditos para ouvir o próprio Dalton Trumbo discorrer sobre o tema em um breve trecho.

 

Ficha técnica trumbo-poster


Ano:
 2015

Duração: 124 min

Nacionalidade: EUA

Gênero: biografia, drama

Elenco: Bryan Cranston, Diane Lane, Helen Mirren, Louis C. K., Elle Fanning

Diretor: Jay Roach

 

Trailer:

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

Veja Também:

Guerra Civil

Por Luciana Ramos   No fascinante e incômodo “Guerra Civil”, Alex Garland compõe uma distopia bastante palpável, delineada nos extremos...

LEIA MAIS

A Paixão Segundo G.H.

Por Luciana Ramos   Publicado em 1964, “A Paixão Segundo G.H.” foi há muito considerado um livro inadaptável, dado o...

LEIA MAIS

O Menino e a Garça

Por Luciana Ramos   Aos 83 anos, Hayao Miyazaki retorna da aposentadoria com um dos seus filmes mais pessoais. Resvalando...

LEIA MAIS