Por Luciana Ramos

 

As profundidades de campo concedidas pela tecnologia 3D logo foram absorvidas por Hollywood para reforçar o espetáculo visual de seus maiores blockbusters, sendo comumente associado a filmes infantis e de super-heróis. Em contraponto a esse movimento, cineastas autorais como Jean-Luc Goddard e Wim Wenders propuseram-se a trabalhar as infinidades linguísticas que a união dessa tecnologia com dramas essencialmente humanos possibilita.

Nessa esfera, após a idealização do excelente documentário “Pina”, Wenders volta as experimentações com “Tudo vai Ficar bem”, drama sobre o luto e a depressão que este carrega.

 

Nele, Tomas (um apático James Franco) é um escritor cuja vida muda após atropelar um garoto. Se por um lado ele embarca numa jornada autodestrutiva, consumido pela depressão e culpa, por outro o trauma aflora seus talentos criativos, impulsionando sua carreira.

Ainda que decidido em seguir em frente, Tomas não consegue se desgarrar do passado, visto que este sempre retorna nas formas da mãe (Charlotte Gainsbourg) e irmão (Robert Naylor) do garoto, que o cobram por assistência como forma tanto de penitência como de auxílio.

tudo vai ficar bem 1

Assim, ao longo de dez anos, a trama acompanha os reflexos de um evento trágico na vida daqueles direta e indiretamente envolvidos. Porem, a má exploração do seu potencial dramático transforma o longa em um exercício de monotonia.

Conhecido pelo uso de tempos dilatados com gradual progressão dos conflitos, Wenders distancia-se da excelência dos seus trabalhos anteriores por não conseguir desenvolver bem seus personagens. Todos eles parecem dotados de uma frieza permanente, o que torna as suas experiências com relação ao luto desprovidas da humanidade necessária.

A economia das expressões dos atores, assim como a falta de passagens dotadas de maior profundidade emocional, prejudicam a interação de Tomas, Kate e Christopher. Desse modo, faltam elementos ao longo da trama que consigam proporcionar a catarse necessária para sua contemplação.

Em contraponto, o longa mostra-se tecnicamente competente. A profundidade de campo obtida pelas lentes 3D não só compõe enquadramentos belíssimos como fornece uma conotação subjetiva aos personagens ao destacá-los do meio, da realidade que os cerca.

Esse trabalho é complementado pela fotografia, cujo jogo de luz e sombras propõe-se a revelar ao espectador os sentimentos dos personagens. Porém, além de oferecer imagens belas, não há nada no filme que justifique a utilização do recurso visual, sendo assim um mero exercício criativo.

Idealizado como um drama intimista dotado de visual pomposo, “Tudo Vai Ficar Bem” não consegue construir a conexão necessária com o espectador pela excessiva frieza do seu tratamento narrativo. Rígido e morno, não representa nem de longe o talento do seu diretor, Wim Wenders.

Ficha técnica tudo vai ficar bem poster


Ano:
 2015

Duração: 118 min

Nacionalidade: Canadá, Alemanha, França, Suíça, Noruega

Gênero: drama

Elenco: Rachel McAdams, James Franco, Charlotte Gainsbourg

Diretor: Win Wenders

 

Trailer:

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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