Por Luciana Ramos

 

Enquanto crítico, o jovem Peter Bogdanovich ouviu muitas histórias: algumas façanhas reais de bastidores que comprovavam a maestria de algum diretor; outras, mais similares a anedotas, relatos empolgados demais para parecerem-se com a verdade. Com o passar do tempo, ele mesmo ganhou notoriedade por saber recontá-las aos ouvidos interessados, ganhando o status de “sabe tudo do cinema”.

Fictícias ou não, histórias sobre a atriz que estava no momento certo no lugar exato e por isso tornou-se uma estrela de cinema ou o diretor que, sufocado pelas adversidades, teve uma ideia genial e transformou seu filme em um clássico ajudam a compor a aura romântica de Hollywood.

Em “Um amor a cada esquina”, Bodganovich presta homenagem a linha tênue entre fantasia e realidade que cerca a Meca do cinema com trama divertida e cheia de desencontros. Tal feito também reacende a sua chama como diretor, há muito perdida, após breve e fulgurante fama nos anos 70.

 

O tom do filme é definido desde o começo: um letreiro que se remete ao cinema mudo narra o acontecimento inicial: uma jovem atriz de sucesso relata a sua escalada ao primeiro time de Hollywood para uma jornalista (Illeana Douglas). Isabella Patterson (Imogen Poots) fala em close de velhos filmes com Katherine Hepburn e Spencer Tracy, dos números de dança de Fred Astaire e Ginger Rogers e clama que a sua vida só pode ser explicada pela mágica, afirmação logo contestada pelo ceticismo da ouvinte.

A estória volta então quatro anos para narrar os fatos que a levaram a aquela circunstância. Somos apresentados a Albert Alberson (Owen Wilson), hospedado em um hotel sob nome falso para dirigir uma peça na Broadway. Utilizando os serviços de uma cafetina de luxo, conhece Glo, codinome de Isabella, na verdade uma prostituta.

Após passarem uma noite juntos, Albert a convence a largar a vida para seguir seu sonho de tornar-se uma atriz. Para isso, oferece a ela trinta mil dólares.

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Ele sente-se feliz com sua decisão até o momento em que a reencontra, dessa vez nos palcos, fazendo uma audição para a sua peça. Pior ainda, contracenando com sua mulher (Kathryn Hahn) e Seth (Rhys Ifans), ator que flagrou o casal na noite anterior. Desesperado, faz de tudo para não contratá-la, sob protestos de todos, em especial do autor, Joshua Fleet (Will Forte), encantado por Isabella.

Complicam ainda mais a trama a presença de um juiz (Austin Pendleton) obcecado pela garota, um detetive particular (George Morfogen) e uma terapeuta (Jennifer Aniston) extremamente sem paciência. Assim, em poucas horas, a vida de Albert vira de cabeça para baixo e todos os personagens são postos em conflitos através de situações hilariantes.

Eis que, intercalando a realidade pouco atraente com os relatos fantasiosos sobre os mesmos acontecimentos, o roteirista e diretor tece o seu tema e pergunta ao espectador: o que é mais interessante? Qual história é mais rica? Até onde o que está sendo relatado é verdade?

Ao final de 93 minutos de encontros, desencontros e reviravoltas pouco prováveis, Bogdanovich fecha a sua tese com a aparição de uma personalidade de Hollywood. Na verdade, trata-se de alguém clamou para si nos anos 90 o cunho de “fã de cinema”, o conhecedor de todos os filmes e contos de bastidores. Tal escolha é relevante pois não só elimina erros de desenvolvimento de roteiro como enaltece o sentido do seu filme.

Unindo uma trama interessante e leve a um elenco em excelente forma, com destaque o carisma e desenvoltura de Imogen Poots, “Um amor a cada esquina” presta homenagem as histórias hollywoodianas que enchem as pessoas de esperança e felicidade, mesmo não sendo muito verdadeiras. Afinal de contas, a mágica tem o seu valor.

 

Ficha técnica um amor poster


Ano:
 2014

Duração: 93 min

Nacionalidade: EUA

Gênero: comédia

Elenco: Imogen Poots, Owen Wilson, Jennifer Aniston, Will Forte

Diretor: Peter Bogdanovich

 

Trailer:

 

 

Imagens:

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Avaliação do Filme

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