Por Murillo Trevisan

 

Halla (Halldóra Geirharðsdóttir) tem 50 anos. Em sua vida tranquila que leva no interior da Islândia, ela divide seu tempo entre ser professora de música em um coral e manter-se saudável com o Tai Chi, enquanto leva uma vida dupla como ativista ambiental anticapitalista. Segundo a imprensa islandesa, ela é uma eco-terrorista, empenhada em destruir a economia e a infraestrutura do país, travando uma guerra particular com a indústria local de alumínio.

A premissa até então já daria um bom roteiro, mas um conflito maior entra em cena quando Halla é forçada a questionar toda sua ideologia e o que vale a pena lutar quando descobre que seu maior sonho, há muito desejado, de adotar uma criança está próximo de se tornar realidade, após quatro anos de espera. Todo seu heroísmo e voracidade são derretidos quando quando ela vê a foto de Nika (Margaryta Hilska), uma linda garotinha órfã que a espera na Ucrânia.

 

 

A deslumbrante atuação tripla de Halldóra – que além de viver uma “vida dupla” com Halla, também interpreta sua irmã gêmea Ása – reforça a ideia entre línea da força da mulher de meia idade. Seus atos variam entre leves pedaladas de bicicleta ao ar livre, até fuga de helicópteros e caça à drones nas montanhas com arco e flecha. Ao mesmo tempo em que dá alma à Joana d’Arc moderna, ela imprime todo o seu lado zen em Ása, professora que Yoga e devota do budismo.

Com uma longa carreira como ator (já tendo trabalhado ao lado de Lars von Trier em “O Grande Chefe”), o diretor Benedikt Erlingsson (“Of Horses and Men”) conduz o seu segundo longa de ficção, sendo também uma segunda dramédia. Sendo menos cômico que seu antecessor, optando pelo enfoque na responsabilidade ambiental, suas cenas mais engraçadas são pontuadas pela aparição de certos personagens, como é o caso do turista ciclista, que sempre está no lugar errado na hora errada, levando a culpa pelo terrorismo de Hella, ou pela banda que aparece nos locais mais peculiares conduzindo a trilha sonora meta diegética do filme, quebrando uma espécie de quarta parede.

Como mencionado, o longa é de responsabilidade ambiental e, somos lembrados disso a todo momento pelos meios de comunicação (tv, rádio, vídeos do youtube) existentes no filme. Cenas de catástrofes naturais estão sendo exibidas nos televisores, mesmo que estejam em segundo plano. Ainda assim, “Uma Mulher em Guerra” não deixa de ser uma dramédia deliciosa de acompanhar e com um final surpreendente.

 

*Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 

Pôster

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 101 min

Gênero: ação, comédia, suspense

Direção: Benedikt Erlingsson

Elenco: Halldóra Geirharðsdóttir, Jóhann Sigurðarson, Juan Camillo Roman Estrada, Jörundur Ragnarsson

 

Trailer:

 

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

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