Por Murillo Trevisan

Grande parte do público brasileiro já conhece muito bem todas as confusões que intercorrem diariamente na pensão da Dona Jô (Catarina Abdalla). Além do estrondoso sucesso do primeiro longa em 2015 – que levou mais de 3 milhões de pessoas aos cinemas – essa notoriedade se da por conta da popularidade da sitcom no Canal Multishow – que apenas nos primeiros vinte episódios já teve uma audiência de mais 11 milhões de espectadores, se tornando a maior da TV paga nos últimos 12 anos.

O modelo de humor adotado pelo comediante Paulo Gustavo (“Minha Mãe é uma Peça”), protagonista do primeiro filme e das primeiras temporadas, se assemelha muito ao de Miguel Falabella com o icônico Caco Antibes na sitcom “Sai de Baixo” – grande inspiração para a série do Multishow – onde no final dos anos 90 não se tinha a consciência atual do quão problemáticas são as piadas com classes, raças ou gêneros.

Agora sem a presença de Paulo Gustavo, que segue fazendo uma pausa na carreira para cuidar de questões pessoais, o filme de 2015 ganha uma “sequência”. “Vai que Cola 2 – O Começo” conta como tudo começou: a saga de Ferdinando (Marcus Majella) até chegar ao Rio de Janeiro, o primeiro encontro de Jéssica (Samantha Schmütz) e Máicol (Emiliano D’Ávila), os motivos que levaram Dona Jô a inaugurar a pensão e até mesmo o relacionamento de Terezinha (Cacau Protásio) com Tiziu (Fábio Lago).

Apesar de amenizar na agressão e humilhação verbal, o filme segue a mesma regra humorística do anterior, expondo cada personagem ao cume do ridículo, abusando de estereótipos e preconceitos com diálogos e cenas esculachadas. O início do trio amoroso Máicol, Jéssica e Lacraia (Silvio Guindane), só rende piadas de cunho sexual e humor físico, com esfregação e exibição de seus corpos. Velna (Fiorella Mattheis) é colocada em uma sub-trama muito mal encaixada na história, que não faz o menor sentido, servindo apenas para ao final de tudo colocá-la de trajes de banho em tela.

Com uma ótima atuação de Marcus Majella, Fernandinho agora ganha um destaque maior. Na trama ele sai da sua cidade no interior para ir ao Rio de Janeiro alcançar o sucesso nos palcos. A fama é o seu grande objetivo e ele fará de tudo para conseguir, proporcionando os poucos bons momentos que o filme tem. São de seus devaneios que saem tiradas interessantes, das quais referenciam algumas pérolas do audiovisual brasileiro; como quando ele toma o lugar da Carminha (Adriana Esteves) em “Avenida Brasil”, ou sua hilária performance como Xuxa em “Lua de Cristal” (com direito à Sérgio Mallandro e cavalos brancos).

Com mais cara de sitcom do que de longa-metragem, “Vai que Cola 2: O Começo” limita-se apenas à agradar os já fãs da série, deixando de lado qualquer coerência que um bom roteiro exige, entregando piadas e bordões escrachados e ridicularizantes.

Ficha Técnica

Ano: 2019

Duração: 88 min

Gênero: Comédia

Diretor: César RodriguesElenco: Catarina Abdalla, Érico Brás, Emiliano D’Ávila, Silvio Guindane, Fábio Lago, Marcus Majella, Fiorella Mattheis

Avaliação do Filme

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