Por Murillo Trevisan

 

Depois dos dois primeiros excelentes filmes do Homem-Aranha na trilogia de Sam Raimi (“Arraste-me para o Inferno”), “Homem-Aranha” (2002) e “Homem-Aranha 2” (2004), ambos protagonizados por Tobey Maguire (“A Vida em Preto e Branco”), a Sony Pictures perdeu a mão e não conseguiu mais acertar o tom de sua aranha escarlate nos cinemas.

O declínio teve início quando o produtor Avi Arad (“Quarteto Fantástico”) exigiu que Raimi incluísse diversos vilões no terceiro filme de sua trilogia, resultando num pandemônio total no tratamento final do roteiro. Aliás, um desses vilões do filme de 2007 é o próprio Venom, muito criticado por parecer mais uma versão “emo” do homem-aranha. Após o fracasso de crítica, seguido por dois filmes medianos com Andrew Garfield (“Até o Último Homem”) vestindo o uniformes, a Sony fez o que era o melhor para seu querido personagem e o deixou nas mãos criativas da Marvel Studios, enquanto ela embolsava grande parte dos bons resultados do novo filme.

Na ausência periódica de seu único herói, nasce a necessidade de expandir esse universo para não perder a bocada do mercado atual do gênero. A saída mais fácil foi pegar um de seus vilões e transformá-lo em um anti-herói, rótulo que o público já está familiarizado, como o popular personagem Wolverine e mais recentemente o Deadpool.

 

 

Dirigido por Ruben Fleischer (“Zumbilândia“), “Venom” centraliza sua trama na trajetória pessoal de Eddie Brock (Tom Hardy) que, após ter desmascarado a “Fundação Vida” e suas práticas desumanas em novos experimentos, tem a sua própria vida (profissional e amorosa) devastada pelo CEO da corporação e vilão Carlton Drake (Riz Ahmed). Ele é retratado como um rapaz caridoso e cheio de boas intenções, características que divergem de sua origem nos quadrinhos, e , na tentativa de mais uma de suas boas ações, acaba tornando-se hospedeiro do simbionte “Venom”.

A escolha de Tom Hardy (“Mad Max: Estrada da Fúria “) para o protagonista talvez tenha sido o único acerto do filme. Seu jeito peculiar de atuação, com baixo tom de voz e gestualização mais rígida, funciona bem quando ele interage com o parasita dentro de sua própria cabeça. O ator consegue transpor em tela a loucura de um ser com a mente perturbada e questiona-se até se aquilo não seria apenas um tumor em seu cérebro ao invés de uma simbiose alienígena, dando a falsa esperança de que a trama poderia seguir um caminho mais científico.

Infelizmente, o roteiro não ajuda em nada. Os diálogos são bobos e a relação entre os personagens insignificantes. Até mesmo sua ex-noiva Anne Weying (Michelle Williams), que o deixou após ser demitida por consequência do escândalo da “Fundação Vida”, não passa o mínimo de empatia, fazendo o espectador pouco se importar se eles vão ficar juntos ou não. A trama que se encaixaria perfeitamente à um sub-gênero terror psicológico opta por uma vertente mais ínfima, infantilizando e desperdiçando um grande potencial.

 

 

Claramente pode-se observar também que a versão final do filme sofreu nas mãos dos editores que, ao baixar a classificação indicativa de 18+ para 13 anos, acabou limando ligações importantes. Algumas cenas são confusas e com cortes drásticos, fazendo nos importarmos ainda menos com essa história desconexa.

Por fim, “Venom” traz uma atualização estética para o vilão (aqui anti-herói) no cinema, esquecendo aquela versão patética de 2007 com uma qualidade gráfica mais aprimorada. Tirando isso, o filme acaba sendo um desperdício total de um bom personagem que caberia em uma variante voltada para terror/sci-fi, assim como era o projeto inicial.

 

Pôster

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 112 min

Gênero: ação, horror, ficção científica

Direção: Ruben Fleischer

Elenco: Tom Hardy, Michelle Williams, Riz Ahmed, Reid Scott, Jenny Slate

 

Trailer:

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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