Por Murillo Trevisan
O brilho da fama costuma ser tentador – glamour, glória, regalias, dinheiro, festas e o nefasto discernimento de que “tudo é permitido”. Hoje, com a capacidade de alcance das redes sociais, a popularidade pode ser conquistada mais fácil do que nunca e, consequentemente, ser passageira se não buscar estar sempre em foco. Mas o preço a se pagar por isso pode ser alto. O que não faltam são relatos de celebridades que acabam perdendo a cabeça, entrando em depressão, ou em casos mais extremos, cometendo suicídio.
Em “Vox Lux – O Preço da Fama”, somos constantemente lembrados dessa busca por reconhecimento. O prólogo apresenta a jovem Celeste (Raffey Cassidy) e nos contextualiza dos eventos que viriam a mudar seu destino. Após as férias de verão, seu ex-namorado Cullen Active (Logan Riley Bruner) invade a sala de aula onde ela estudava, e comete um atentado tirando a vida de dezenas de alunos e a ferindo no pescoço. O ato que poderia ter posto fim à sua vida – inclusive representado pelos créditos iniciais, que sobem à tela simulando o final tradicional de filmes – faz com que ela tome um novo rumo.
Depois de cantar na cerimônia de cremação dos estudantes, o talento de Celeste é descoberto e ela se transforma em uma popstar iniciante com a ajuda de sua irmã Eleanor (Stacy Martin), que compõe suas músicas, e um gerente de talentos (Jude Law) contratado por seus pais. Ambos aqui retratados como ausentes, uma vez que a mãe não aparece e o pai surge apenas em uma cena sendo filmado do pescoço para baixo.
A rápida ascensão da talentosa adolescente correlata com a perda de sua inocência, se entregando ao álcool, drogas e à vida noturna, quebrando o vínculo com pessoas próximas – principalmente sua irmã. A falsa sensação de “livre arbítrio” e decisões de sua carreira são realçadas na fotografia do filme, que opta pelo aspecto de tela (aspect ratio) 4×3 que, além de uma quebra de paradigma visual, tem a função narrativa de ressaltar a sensação claustrofóbica e vida sufocada que a protagonista leva.
Em seu segundo filme na direção, o jovem Brady Corbet (“A Infância de Um Líder”) aventura-se numa estética mais ousada, utilizando o máximo de recursos para transmitir – com sucesso – estranheza ao espectador. A mescla de imagens aleatórias – desde estradas à takes de grandes edifícios e corporações – remete muito aos trabalhos de seus mentores Lars von Trier (“Melancolia”) e Michael Haneke, com qual já trabalhou em “Violência Gratuita” (2007). A escolha de colocar um narrador (Willem Dafoe) na história explana de uma forma quase poética a jornada de Celeste, ajudando na compreensão do paralelo traçado entre a fama de uma popstar, um atirador ou terroristas.
Embora estampe os cartazes, trailers e trabalhos de divulgação do longa, Natalie Portman (“De Canção em Canção”) – motivo para grande parte do público ir ao cinema – entra em cena só no final do segundo ato, na fase adulta da protagonista. Mesmo assim, ela rouba a cena e trava uma de suas melhores atuações desde seu ápice em 2010, com “Cisne Negro” de Darren Aronofsky (“Mãe!”). Ela que, não fosse as condições rigorosas impostas por seus pais aos estúdios, poderia seguir pelo mesmo caminho sombrio da fama, uma vez que sua carreira começou muito cedo – aos 13 anos, com o excelente “O Profissional”, de Luc Besson.
Apesar da narrativa intrigante e brilho de Portman, o filme não se segura bem entre o final do primeiro ato e o início do terceiro. A necessária contextualização justificando os meios é realizada de uma maneira cansativa, que só recupera o fôlego em seus finalmentes.
No entanto, “Vox Lux – O Preço da Fama” acaba sendo uma surpresa pela quebra de expectativa pela temática apresentada, subvertendo o modo de contar a desagradável história de uma popstar.
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 114 min
Gênero: Drama, Música
Diretor: Brady Corbet
Elenco: Natalie Portman, Jude Law, Stacy Martin, Raffey Cassidy, Jennifer Ehle, Christopher Abbott
Trailer
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